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Erro de concepção pode arruinar o euro

Criado para integrar, o euro pode rachar a UE

EDUARDOPORTER
ENSAIO

As falhas na concepção do euro empurraram grande parte da União Europeia para um profundo fosso econômico. E o imperativo político está novamente sendo apresentado como uma razão para manter a moeda comum. "Essa motivação, importantíssima, costuma ser subestimada por quem é de fora", disse o colunista Martin Wolf, do "Financial Times".

No entanto, o eleitorado alemão não parece disposto a gastar um centavo para ajudar gregos, espanhóis, portugueses, irlandeses ou italianos.

A ordem política grega implodiu em 6 de maio. O eleitorado puniu os principais partidos por eles terem aceitado a estratégia de cortes orçamentários que contribuiu para levar o desemprego a mais de 20%. Sem um partido capaz de formar uma coalizão de governo, a Grécia novas eleições em 17 de junho.

Em toda a zona do euro, 11 governos caíram em pouco mais de um ano. Os partidos extremistas estão em ascensão.

Quase dois terços da população nos países da zona do euro continuam apoiando o euro, segundo a última pesquisa Eurobarômetro, em novembro. No entanto, o nacionalismo raivoso e a desconfiança estão se sobrepondo ao sentido de propósito comum da Europa.

"O paradoxo seria que a união monetária, que deveria ser um degrau para mais união, se torne um degrau para menos união", disse o ex-parlamentar belga Paul De Grauwe, professor de economia política na London School of Economics.

Mas pode ser hora de dar um basta. A Europa estaria em uma situação muito melhor se cada país tivesse sua própria moeda. Nações com economias diferentes foram privadas de uma política monetária independente. As taxas de câmbio e juros que servem para a Alemanha também precisam servir para a Espanha, que tem o quádruplo de desemprego.

O principal problema é que, embora os líderes tenham abraçado avidamente a união monetária, eles rejeitaram seu complemento necessário: um orçamento central, que transferisse o dinheiro de regiões bem-sucedidas para as de baixo desempenho.

O euro alimentou a ilusão de que Grécia, Espanha e Itália eram tão dignas de crédito quanto Alemanha ou Holanda, o que impulsionou uma década de boom de crédito na periferia europeia. Não houve preparo para lidar com o choque de quando os fluxos de capital para essas nações parassem abruptamente.

Não havia um orçamento europeu que socorresse Madri quando seu mercado imobiliário e sua economia implodiram, e seu desemprego disparou. A Espanha não tinha um Banco Central para inundar a economia com pesetas -para respaldar seus bancos e estimular os empréstimos e investimentos.

A desvalorização estava fora de questão. A única coisa que a Espanha podia fazer era contrair empréstimos para arcar com o seguro-desemprego e outros programas sociais, cujos custos dispararam enquanto a arrecadação tributária encolheu.

Os líderes da Alemanha insistem que a solução para a Espanha e outros países é essencialmente cortar salários para reduzir os custos trabalhistas. Mas é improvável que uma democracia possa sustentar tal ajuste por muito tempo.

Uma saída do euro -seguida por uma forte desvalorização- não parece uma proposta de todo ruim.

Em 2001, a Argentina abandonou uma década de paridade entre o peso e o dólar, virtualmente eliminando as poupanças dos seus cidadãos. Bancos quebraram. Os salários reais despencaram. Os investimentos estrangeiros secaram, e o governo precisou cortar gastos. Mas a economia argentina se recuperou.

A perspectiva de romper com o euro é assustadora.

Uma vez que os investidores percebessem que os países podem sair do euro, os juros iriam disparar onde isso parecesse mais provável. Haveria uma enorme fuga de capitais dos países periféricos para a Alemanha.

Famílias e empresas com dívidas iriam falir se os seus salários e poupanças fossem desvalorizados, mas suas dívidas continuassem iguais. Os bancos poderiam desmoronar. Empresas poderiam perder acesso a fundos. A instabilidade política surgiria.Ainda assim, desapegar-se do euro pode ser a melhor opção.

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