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Depois da guerra, uma sala de aula

Ex-militares viram professores em universidades

Por ELISABETH BUMILLER

NEW HAVEN, Connecticut - Em uma tarde recente em uma sala de aula na Universidade Yale, o general Stanley A. McChrystal discorreu durante duas horas sobre os conflitos na Irlanda do Norte e na África do Sul, com trechos de sua própria história como ex-comandante supremo no Afeganistão.

Em aulas anteriores, ele cobriu a Baía dos Porcos e o Vietnã, e, como dizem seus alunos, recontou em detalhes fascinantes os acontecimentos de "O General Fugitivo", a matéria da "Rolling Stone" que lhe custou seu cargo.

O seminário do general McChrystal sobre liderança é quase tão difícil de entrar quanto na própria Yale: no último semestre, cerca de 200 estudantes se inscreveram para cobiçadas 20 vagas.

A comunidade de Yale o adotou amplamente -assim como as outras escolas da Ivy League começaram a abrir as portas para seus pares.

O almirante Mike Mullen, ex-presidente do Estado-Maior Conjunto, dará um curso sobre diplomacia e assuntos militares na Universidade Princeton em Nova Jersey neste outono. O almirante Eric T. Olson, ex-chefe do Comando de Operações Especiais do Exército, estará oferecendo um curso sobre estratégia militar na Universidade Columbia, em Nova York, a partir de setembro.

A Universidade Harvard costuma convidar generais para palestras e conferências, entre eles David H. Petraeus, o general aposentado e atual diretor da CIA, e o general Martin E. Dempsey, presidente do Estado-Maior Conjunto, que esteve no campus em abril.

Para muitos que estavam na faculdade durante a Guerra do Vietnã, é inimaginável que o general William C. Westmoreland, o comandante das tropas americanas no auge do conflito, fosse bem-vindo em uma sala de aula da Ivy League.

Mas, desde o Vietnã e o fim do recrutamento obrigatório em 1972, os militares passaram de um exército desmoralizado para uma força de voluntários que é bem vista por muitos americanos.

No ano passado, Harvard, Yale e Columbia convidaram o curso de formação de oficiais a voltar ao campus, depois de banir o programa durante o Vietnã, citando como motivo o fim da proibição aos gays nas Forças Armadas. A contratação de oficiais militares aposentados como professores faz parte da mesma evolução.

Alguns docentes em Yale continuam contrários a que um general famoso aposentado, que não tem Ph.D., ensine em uma universidade civil, e dizem que não ficam à vontade com seu histórico de dirigir ataques do comando secreto que mataram tantas pessoas no Iraque e no Afeganistão.

Mas professores que apoiam o general McChrystal dizem que os estudantes distinguem entre guerreiros e guerras.

"Quase não há preconceito antimilitar entre os estudantes", disse John Lewis Gaddis, um professor de história em Yale que ganhou o Prêmio Pulitzer em 2012 e que recebeu o general McChrystal na universidade. "Eu não diria que isso vale para o corpo docente."

No recente seminário do general McChrystal, aberto a estudantes e graduados, ele discutiu durante duas horas como a liderança foi importante para solucionar problemas como o "apartheid". Como em todas as suas sessões, foi uma declaração particular -os alunos não devem comentá-las fora das aulas, porque o general cita casos de operações delicadas no Iraque e no Afeganistão.

O tema em seus estudos de caso de liderança é que as relações pessoais importam -uma visão que ele promoveu em outra aula recente sobre o artigo de 2010 na "Rolling Stone", leitura obrigatória do curso. Nesse artigo, há citações dele e membros de sua equipe fazendo comentários negativos sobre autoridades da Casa Branca. Dias depois, o presidente Obama o demitiu.

O general McChrystal não quis comentar a precisão do artigo, como sempre.

No ano passado, uma investigação do Departamento da Defesa não encontrou provas de erros do general ou seus assessores; a "Rolling Stone" questionou os métodos de investigação e manteve suas declarações.

Ele disse que é doloroso reviver o episódio em classe, mas considera sua obrigação.

"O único motivo pelo qual estou aqui para ensinar", comparado com "alguém que tem um doutorado, é porque passei por isso", ele disse, falando sobre o episódio da "Rolling Stone" assim como de sua carreira militar. "Acho que devo isso a eles."

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