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Militar americano debate as lições das guerras

Suzanne Dechillo/The New York Times
O coronel Gian Gentile, abaixo à direita, critica a contrarrebelião e acha que as guerras no Iraque e no Afeganistão alcançaram pouco; ao lado, cadetes americanos em treinamento
O coronel Gian Gentile, abaixo à direita, critica a contrarrebelião e acha que as guerras no Iraque e no Afeganistão alcançaram pouco; ao lado, cadetes americanos em treinamento

Por ELISABETH BUMILLER

WEST POINT, Nova York - Durante dois séculos, a Academia Militar dos Estados Unidos produziu generais para as guerras do país.

Hoje, em um momento crítico na história militar americana, o corpo docente aqui nesta curva do rio Hudson, 90 quilômetros ao norte de Nova York, está em um profundo debate existencial. Resumidamente, a discussão é se a estratégia de contrarrebelião usada no Iraque e no Afeganistão -a doutrina cara, com uso intensivo de tropas e de tempo, de tentar conquistar a população construindo estradas, escolas e órgãos públicos- está morta.

De modo geral, a questão é: o que os EUA ganharam depois de uma década em duas guerras?

"Não muita coisa", disse em uma entrevista recente o coronel Gian P. Gentile, diretor do programa de história militar de West Point e comandante de um batalhão de combate em Bagdá em 2006. "Certamente não valeu o esforço. Na minha opinião."

O coronel Gentile, que há muito tempo critica a contrarrebelião, representa um lado da divisão em West Point. Do outro, está o coronel Michael J. Meese, chefe do departamento de ciências sociais da academia e um importante assessor do general David H. Petraeus em Bagdá e Cabul quando este comandava as guerras no Iraque e no Afeganistão.

Apesar de seus custos e riscos, a contrarrebelião, segundo o coronel Meese, "foi amplamente bem-sucedida ao conseguir fazer os iraquianos governarem a si próprios".

O debate em West Point reflete o que está ocorrendo nas Forças Armadas em geral, quando os EUA se retiram do Afeganistão sem uma vitória clara e os resultados no Iraque continuam ambíguos. Mas em West Point o debate é pessoal: mais de 6.000 militares americanos morreram no Iraque e no Afeganistão e mais de US$ 1 trilhão foram gastos.

Os oficiais do corpo docente de West Point se orgulham de sua liberdade acadêmica e de desafiar a ortodoxia.

O argumento do coronel Gentile é que os EUA seguiram um estreito objetivo político no Afeganistão -derrotar a Al Qaeda e impedi-la de usar o país como base- com uma abordagem "operacional maximalista". "A estratégia deveria empregar os recursos de um país para alcançar objetivos políticos, gastando a menor quantidade de sangue e dinheiro possíveis", disse.

A contrarrebelião poderia em última instância funcionar no Afeganistão se os EUA se dispusessem a ficar lá "70, 80, 90 anos", disse. Ele reconheceu que é difícil questionar as guerras diante das perdas.

"A guerra, em última instância, é um ato político", afirmou. "Existe uma honra em cumprir o dever. Quero dizer que você provavelmente poderia revidar e me dizer que ainda acha que a guerra não vale a pena. Mas eu sou um soldado e vou aonde me mandam e faço meu dever."

O argumento contrário, do coronel Meese, é que a guerra não pode ser separada de suas dimensões políticas, econômicas e psicológicas, uma opinião exposta no Manual de Campo de Contrarrebelião do Exército /Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, revisado em 2006. Considerado um novo estilo de prática de guerra, o manual defende a proteção das populações civis, a reconstrução e a ajuda ao desenvolvimento.

"A guerra em um ambiente perigoso é uma empreitada humana, e envolver-se com a população é algo que tem de ser feito" para tentar influenciá-la, disse o coronel Meese.

Em junho passado, quando o presidente Obama anunciou que retiraria até o fim deste verão os 30 mil soldados adicionais que enviou ao Afeganistão -mais cedo do que os militares queriam-, a doutrina parecia estar praticamente morta.

Hoje, enquanto as tropas americanas voltam do Afeganistão, onde a nova estratégia será reduzida à caça aos rebeldes, as discussões em West Point estão acaloradas em colégios de guerra, publicações e livros acadêmicos. Para o coronel Gregory A. Daddis, professor de história em West Point, o debate também é sobre o papel dos militares. "Hoje não temos a certeza de qual é a finalidade do Exército", disse.

Para John Nagl, tenente-coronel aposentado do Exército que combateu no Iraque e hoje professor na Academia Naval dos EUA, a política externa americana deveria "garantir que nunca mais precisemos fazer isso".

A contrarrebelião funciona? "Sim", afirmou. "Vale o que você pagou por ela? Essa é uma pergunta totalmente diferente."

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