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Dinheiro & Negócios / Análise

Falta ação coordenada no combate à crise

POR FLOYD NORRIS

Há menos de quatro anos, quando o sistema financeiro mundial corria o risco de desmoronar, os grandes países se uniram em um rumo coordenado que evitou a depressão global. No entanto, grande parte daquela esperança parece ter desaparecido.

Na Europa, a crise se agravou, e as disputas entre os líderes europeus se intensificaram. Enquanto isso, a maior parte do continente voltou a uma nova recessão.

Na China, o crescimento permanece robusto comparado aos padrões ocidentais. Mas aumentam as preocupações sobre o possível fim de um boom imobiliário alimentado em parte pelos empréstimos e gastos do governo. Em 6 de junho, o banco central da China anunciou inesperadamente que cortaria as taxas de juros em 0,25 ponto percentual.

Nos Estados Unidos, que têm visto a economia crescer e o emprego aumentar, o crescimento dos empregos em maio foi de apenas 69 mil novas vagas. Isso culminou em uma série de três relatórios mensais decepcionantes.

E parece haver pouca disposição -ou talvez, capacidade- de os grandes países agirem juntos novamente. A situação na Europa é a mais premente. Os bancos sofrem pressão por não terem levantado tanto capital quanto poderiam no ano passado, quando os mercados estavam mais efervescentes.Alguns demoraram para reconhecer seus prejuízos com empréstimos imobiliários.

Mas o fator mais importante talvez seja a fragilidade dos governos nacionais. Não há dúvida de que alguns países não poderiam socorrer seus bancos novamente. Alguns agora contam com esses mesmos bancos para empréstimos para manter os governos funcionando em um momento em que os investidores privados não têm certeza de sua credibilidade.

O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, sugeriu recentemente um tipo de seguro de depósito europeu comum e regulamentação bancária, mas não parece haver consenso.

Quase todos os grandes governos da Europa foram derrotados nas eleições, sendo o último o da França.

Desde 2008, o único líder reeleito foi a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Porém, eleições estaduais recentes no país foram vencidas pelo partido de oposição, e até a economia alemã parece estar perdendo força.

A situação eleitoral mais preocupante é a da Grécia, que parece mergulhada na recessão e incapaz de cumprir os rígidos padrões de austeridade impostos por seus parceiros europeus. Com uma eleição terminando em impasse, o futuro da Grécia é incerto. Muitos temem sua saída desordenada da zona do euro. Outros pensam que isso poderá levar ao fim do euro.

Para os governos que precisam pedir dinheiro emprestado, esse é o melhor ou o pior dos tempos. O rendimento dos papéis do Tesouro americano para dois anos é de cerca de 0,25%. Mas títulos alemães comparáveis recentemente rendiam 0,01%. A essa taxa, o governo poderia pedir emprestado 1 milhão de euros e pagar cem euros por ano de juros.

Outros países têm dificuldades para obter empréstimos e pagam taxas de juros muito mais altas. Não é que alguém pense que os rendimentos dos títulos dos governos alemão e americano sejam atraentes. Na verdade, eles são considerados seguros.

A Grécia esgotou seu caminho quando deixou de coletar impostos que lhe eram devidos e escondeu seu problema. Mas a Espanha tinha superavit orçamentários antes que sua bolha imobiliária estourasse, deixando o governo abalado. Entretanto, todos os países em dificuldades estão recebendo o conselho de aderir a uma rígida austeridade. Com uma moeda comum, é difícil ver como alguns países poderão retornar à competitividade internacional.

Nos Estados Unidos, existe a ameaça de que a indisposição dos políticos possa levar a uma combinação de grandes cortes de gastos automáticos e aumentos de impostos em 2013, o que poderia devastar o crescimento. Tudo isso ocorre durante uma disputa eleitoral cada vez mais acirrada.

Além disso, o consenso de que a regulamentação financeira deve ser reforçada evaporou. Na Europa e nos EUA, os bancos dizem que as instituições do outro lado do Atlântico têm vantagens injustas, e os reguladores se queixam de que o outro continente não tomou as medidas necessárias.

Algumas notícias econômicas surpreendentemente boas nos EUA e na China ajudariam a dissipar o pessimismo generalizado. Mais importante seria que os líderes europeus concordassem com uma ação que ofereça esperança de recuperação aos países mais afetados, enquanto garantisse que o sistema financeiro comum tenha o apoio das instituições comuns, caso necessário.

A Alemanha poderia decidir que não gastar o dinheiro necessário para socorrer seus vizinhos criaria perigos maiores.

Uma proposta feita em 6 de junho pela Comissão Europeia de unir os sistemas bancários mais estreitamente poderia ter fruição. Mas, pelo menos por enquanto, a previsão é muito mais sombria do que parecia apenas há alguns meses atrás.

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