Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Lente

Nunca se desligar

A geração do "baby boom" deu origem a diversos estilos de criação dos filhos: há o pai helicóptero, o pai permissivo, o superpai, o pai dependente e o pai autoritário.

Nem todos conseguem decidir se querem ser uma mãe terra ou uma mãe tigre, mas segundo os professores Karen L. Fingerman e Frank Furstenberg, os filhos adultos se saem melhor quando seus pais estão mais envolvidos em suas vidas.

Não muito tempo atrás, os pais americanos incentivavam os filhos a sair de casa e tornar-se independentes, mas esse padrão mudou.

"Há 25 anos, os jovens buscavam conselhos e ajuda de seus colegas. Hoje, os jovens adultos talvez sejam mais inteligentes que seus antecessores. Eles recebem conselhos e ajuda de adultos de meia-idade com mais experiência de vida e recursos materiais a oferecer", escreveram os professores no "Times".

Entre 1986 e 2008, o número de pais que diziam ter conversado com um filho adulto na última semana passou de cerca de 50% para quase 90%, eles relataram. "Os filhos adultos hoje enviam textos para seus pais com frequência, são amigos deles no Facebook e gostam de receber apoio emocional, conselhos e reforço financeiro", escreveram Fingerman e Furstenberg.

De certa maneira, os americanos estão se equiparando a outras culturas em que os pais sempre tiveram um grande envolvimento na vida dos filhos.

Mas, mesmo quando os pais não estão habitualmente em contato com os filhos, por causa de uma história familiar dolorosa ou um estranhamento, é fácil acompanhar o filho ou a filha on-line. E também é possível imaginar um relacionamento mais íntimo do que o que realmente existe. Em muitos casos, a trilha digital aumenta o sofrimento.

"Eu escuto frequentemente: 'Eu soube por alguém que leu no Facebook que meu filho acaba de se casar', ou 'Minha filha acaba de ter um bebê e eu nem sabia que ela estava grávida'", disse ao "Times" o psicólogo Joshua Coleman, da área da baía de San Francisco. "Há situações em que os pais gostariam de estar por perto e não estão. Depois, eles sabem das novidades por terceiros, e isso aumenta a dor e a humilhação."

Para Jessica, 27, moradora de Manhattan que trabalha em marketing, sua difícil relação com o pai piorou quando ela tinha dez anos e ele se casou novamente. Ela ligou para ele e disse: "Você pode se divorciar de suas mulheres, mas não dos seus filhos". Ele respondeu: "Bem que eu gostaria".

Hoje, o pai dela acompanha sua conta no Twitter, segundo outros parentes, e sabe sobre sua dieta vegetariana, suas viagens e sua vida social. Isso a irrita, mas ela reconhece que qualquer pessoa pode ver suas publicações.

"Eu não queria que ele contasse a sua família as coisas que sabe sobre mim na internet. Os 140 caracteres não contam a história toda", disse Jessica ao "Times". Seu pai usou os detalhes que captou de suas postagens no Twitter para convencer a mãe dele -com quem Jessica tem um bom relacionamento- de que era próximo da filha.

"Foi uma frustração", disse ela. "Foi então que percebi como o espaço digital é assustador."

Alguns olham para trás e ficam felizes por terem sido empurrados para a independência.

Peter Dinklage, ator da série de sucesso "A Guerra dos Tronos", da HBO, lembra o discurso de formatura em sua antiga faculdade, Bennington College, em Vermont. Ele agradeceu a seus pais por mandá-lo às melhores escolas, apesar de não terem muito dinheiro.

Mas esse não foi o maior presente que recebera dos seus pais, disse Dinklage.

"Depois que me formei, fiquei por conta própria. Financeiramente, era a minha vez", ele disse. "Isso me deixou muito faminto. Literalmente. Eu não podia ser preguiçoso. Hoje sou totalmente preguiçoso, mas na época eu não podia ser."

TOM BRADY

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.