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'Primavera do investidor' no Japão

Por HIROKO TABUCHI

TÓQUIO - Um número cada vez maior de investidores japoneses está começando a exigir a responsabilização dos diretores das empresas em questões como o descumprimento de metas e os escândalos corporativos.

As reuniões de acionistas neste semestre foram marcadas por uma enxurrada de propostas de investidores que contestam a administração -opondo-se a nomeações para o conselho ou expressando raiva contra os executivos.

Uma proposta apresentada por um acionista frustrado na Nomura Holdings sugeriu que o banco de investimentos, que está envolvido em um inquérito de negociações privilegiadas, expresse sua vergonha mudando seu nome para Vegetable Holdings. A proposta foi derrubada em votação na assembleia de acionistas do Nomura em 27 de junho.

Os investidores individuais no Japão ainda detêm pouco poder, comparados com os acionistas institucionais que formam a maior parte da base de investidores.

"Você poderia dizer que o Japão está finalmente experimentando seu próprio tipo de 'primavera de acionistas', embora ainda haja um longo caminho a percorrer", disse Nicholas Benes, que trabalha em uma organização de governança corporativa.

Os investidores no Japão há muito tempo enfrentam baixos retornos e mínima governança corporativa. Kazuo Kino, ex-chefe de relações com os investidores da Japan Airlines, disse que o senso comum entre muitas empresas japonesas era o que os investidores individuais se importavam mais com os benefícios corporativos do que com a responsabilidade.

Durante o último ano, porém, grandes escândalos puseram em destaque a governança corporativa.

Um caso extremo é o da Olympus, fabricante de câmeras e endoscópios, que no ano passado admitiu que havia escondido US$ 1,7 bilhão em prejuízos, um escândalo que chegou a causar uma perda de 80% de seu valor de mercado.

Seus diretores enfrentaram uma sabatina na reunião de acionistas em junho. Hoje, a Olympus enfrenta uma ação legal dos acionistas.

Kengo Nishiyama, um analista de governança corporativa na Nomura Securities, disse que esses escândalos são especialmente prejudiciais para as companhias japonesas porque suas ações deveriam ser investimentos de baixo risco e baixo retorno.

Em uma pesquisa realizada por Nishiyama no mês passado com mil investidores individuais, 14,5% (um recorde) disseram que neste ano vão votar contra a nomeação de diretores e auditores escolhidos pela empresa.

As companhias japonesas tradicionalmente dificultaram ao máximo que os investidores individuais levantassem suas vozes, por exemplo, realizando reuniões de acionistas no mesmo dia que outras empresas. O pico neste ano foi 27 de junho, quando 709 companhias realizaram assembleias de acionistas -representando 42% das empresas listadas na Bolsa de Valores de Tóquio.

Mas há sementes de mudança. Algumas companhias estão realizando reuniões de acionistas nos fins de semana para encorajar mais acionistas individuais a participar.

Mudanças fundamentais ainda são necessárias. Na reunião de acionistas da Tokyo Electric Power, operadora da usina nuclear de Fukushima, foram apresentadas moções de investidores individuais, incluindo atendimento de saúde vitalício para os trabalhadores e a venda de ativos para levantar fundo para indenizações. "Sendo a companhia por trás de um desastre devastador, achamos que ela precisa ir mais longe", disse Yui Kimura, um investidor individual. As moções, porém, foram derrubadas em votação.

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