Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

A transparência no paraíso fiscal

Por AZAM AHMED

GEORGETOWN, ilhas Cayman - Na última década, enquanto os fundos hedge inflavam em tamanho e número para se tornar uma força dominante no universo dos investimentos, os serviços de diretoria cresceram de uma indústria caseira para um grande negócio nas ilhas Cayman. Muitos fundos administrados por diretores americanos têm sua residência legal aqui por motivos fiscais. E por causa de um detalhe no código fiscal da ilha esses fundos têm de nomear um conselho administrativo.

Em consequência disso, dezenas de operações surgiram nas Cayman para fornecer diretores, desde escritórios particulares a firmas de advocacia poderosas. Os diretores são muitas vezes profissionais baseados nas Cayman: contadores, advogados e administradores de fundos hedge.

Mas raramente são investidores. Ostensivamente, os diretores oferecem orientação e supervisão aos fundos. Em troca, um diretor geralmente ganha entre US$ 5 mil e US$ 30 mil por ano. Com mais de 9.000 fundos sediados na pequena ilha, o negócio está fervendo.

E também um debate. Grandes investidores começam a questionar o valor de diretores "offshore", especialmente à luz de recentes fraudes, liquidações e desvios em fundos hedge. Uma análise de milhares de processos de securities nos Estados Unidos feita pelo jornal "The New York Times" mostra que dezenas de diretores participam dos conselhos de 24 ou mais fundos nas Cayman, que individualmente devem supervisionar dezenas de bilhões de dólares em ativos. Alguns detêm mais de cem diretorias, e um diretor especialmente ocupado participa do conselho de cerca de 260 fundos hedge.

"Você poderia poupar seus US$ 5 mil e comprar um carimbo de borracha", disse Luke Dixon, um importante diretor de investimentos no fundo de pensões britânico USS, que supervisiona mais de US$ 50 bilhões.

Os diretores também têm sido alvo de processos legais. Um caso de fraude recente descobriu que dois diretores, que por acaso eram parentes do gerente do fundo hedge, haviam desviado US$ 111 milhões.

A ascensão do negócio de diretores de aluguel -e as questões que o cercam- salientam uma transição dos fundos hedge. Enquanto a indústria perde sua cultura de caubói por uma abordagem mais formal, ela adota a estrutura e as práticas das empresas de investimentos da corrente dominante. Mas mesmo enquanto os fundos contratam diretores e marqueteiros submissos, alguns cantos do setor permanecem em um estado de desenvolvimento tímido.

"A indústria de fundos hedge ainda tenta entender o que ela quer ser quando crescer", diz Greg Robbins, diretor de uma unidade da Mesirow Financial.

Os dados para esta reportagem foram obtidos de queixas feitas à SEC (equivalente à CVM nos EUA), que supervisiona as negociações e as Bolsas de valores do país. Mas as diretorias citadas são apenas para fundos com investidores americanos, omitindo milhares de fundos que administram estritamente dinheiro do exterior.

A Mesirow e outros investidores em fundos hedge, incluindo o MSS e o Man Group, vêm clamando por maior transparência sobre em quantos conselhos os diretores servem. Eles levaram suas queixas à Autoridade Monetária das ilhas Cayman, que até agora se negou a divulgar informações. Os serviços financeiros são a linha vital da economia das ilhas, representando mais de 35% de seu PIB e empregando cerca de 15% da força de trabalho, segundo um estudo feito em 2008 pela consultoria econômica Oxford Economics.

No centro do negócio de fundos hedge aqui está Don Seymour, que financiou um império na ilha com sua empresa de serviços de diretoria, a DMS Management. Seymour, um ex-auditor de fundos hedge na PricewaterhouseCoopers, não quer dizer de quantos conselhos ele participa, mas afirma que conta a investidores. Uma revisão dos processos na SEC mostra que Seymour ocupa aproximadamente 180 lugares em conselhos, segundo a Fundação para Governança de Fundos.

O debate crescente, diz Seymour, é dirigido por concorrentes ávidos para conseguir uma parte de seus negócios. "Temos uma espécie de problema Goldman Sachs", refletiu ele no escritório de sua empresa na DMS House. "Somos o líder mundial em governança de fundos."

Algumas grandes empresas de fundos hedge preferiram equipar seus conselhos com pessoas que trabalham para os fundos hedge ou seus advogados.

Além de companhias como DMS e IMS, escritórios de advocacia oferecem nas ilhas Cayman serviços de diretores de fundos hedge. Isso levantou questões sobre o papel duplo que eles podem exercer, representando o fundo hedge como conselheiro e os investidores do mesmo fundo como diretores.

A empresa de advocacia Walkers vendeu seu negócio de diretoria. Antes disso, dois diretores da Walkers haviam sido investigados por sua supervisão de dois fundos hedge falidos da Bear Stearns Asset Management, que a firma de advocacia também contava como cliente de serviços legais.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.