Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Empreendedores de volta à escola

Escola guia empreendedores para o sucesso

POR HANNAH SELIGSON

É possível criar um empreendedor no setor de tecnologia em quatro meses, partindo do zero?

Sim, é a resposta de um programa global de treinamento chamado Instituto Founder, lançado em 2009. Por um valor inferior a US$ 1.000, os alunos assistem a aulas com uma meta em mente: criar uma empresa totalmente operacional. Na realidade, terão que constituir uma sociedade antes de se formar.

Para serem aceitos no programa, os alunos não precisam ter uma ideia pronta na cabeça, mas precisam passar em uma prova que, segundo o instituto, é capaz de prever seu sucesso como empreendedores. Podem continuar com seus empregos, mas o curso exige muito deles e 60% dos alunos não chegam a se diplomar.

Mas o instituto, uma organização com fins lucrativos sediada em Mountain View, na Califórnia, diz que já ajudou a lançar mais de 500 companhias. Para isso ele se globalizou, com sucursais em 27 cidades, em 14 países. Seu objetivo é ganhar dinheiro em parte por meio de suas participações acionárias nas empresas criadas pelos alunos que formou.

Boaz Fletcher, 44, é consultor de novas empresas em Israel e abriu a sucursal do Instituto Founder em Tel Aviv este ano. "Como país, Israel é ótimo em tecnologia, mas não é ótimo em construir empresas sustentáveis. Essa é uma das coisas que o Instituto Founder ensina: como erguer uma empresa estável, duradoura", disse ele.

O instituto foi idealizado por Adeo Ressi, 40, que já fundou oito empresas. Em meados dos anos 1990, ele foi cofundador do Total New York, um guia on-line da cidade, que foi comprado pela AOL.

Ressi enxergou a necessidade de municiar empreendedores de conhecimentos antes mesmo de chegaram à etapa das ideias. Ele se propôs a criar uma espécie de escola vocacional para ensinar os aspectos práticos fundamentais do empreendedorismo.

Como CEO do site TheFunded.com, em que empreendedores e presidentes dão notas a investidores e empresas de capitais de investimento, Ressi tem toda uma comunidade de fundadores ao seu alcance, tanto que pôde lhes fazer a pergunta: se pudessem, teriam feito diferente no início?

O currículo do instituto é baseado em parte nas respostas dadas por 2.000 executivos a essa pergunta. As classes muitas vezes têm 30 alunos; em 15 aulas, eles aprendem sobre receita, custos e lucros; marketing e vendas, apresentação e publicidade, e gestão de fundos.

As aulas são dadas por empreendedores experientes que podem também atuar como mentores. Um dos pontos fundamentais do instituto é a crença de que muitos aspectos do empreendedorismo podem ser ensinados. José Luis Senent, 43, foi vendedor de carros em Paris durante 20 anos. Ele se formou na sucursal parisiense do instituto em abril de 2011 e hoje comanda o Autoreduc, site de compra em grupo de carros que, segundo ele, é rentável e vai se expandir para a Espanha, Bélgica e Suíça este ano.

Ressi declarou que quer ajudar potenciais empreendedores a evitar erros típicos de principiantes, como Web design falho ou marketing não afinado com o mercado.

Katherine Bicknell, 31, formada pela sucursal de Nova York e cofundadora do aplicativo Kindara, que ajuda mulheres a acompanhar sua própria fertilidade, ainda estaria chamando sua empresa de "Moonlyght", não fosse por uma aula sobre "branding" e atribuição de nomes a empresas.

"O Instituto Founder disse que o nome deve poder ser pronunciado, lido e escrito facilmente e que o ponto.com precisa estar disponível", contou ela.

Ao criar redes e oportunidades, o instituto quer democratizar o acesso a jovens empreendedores. "Ele me ajudou a construir minha rede de contatos", contou Eren Bali, 28, cofundador da Udemy, uma companhia de ensino on-line que já levantou US$ 4 milhões junto a investidores. "Quando vim da Turquia para os EUA, em 2008, para abrir minha empresa, eu não conhecia ninguém."

Carlos Rozo, 38, se formou na sucursal do instituto em Bogotá. Ele diz que o instituto o impediu de cometer um erro potencialmente fatal -abrir algo grande e complicado-, direcionando-o para algo mais focado, que preenchesse um nicho. Ele abriu mão dos planos de criar uma plataforma de partilha de conteúdo, em favor da Thotz.net, provedora de softwares que empresas podem usar para compartilhar informações entre seus funcionários.

Os formados depositam 3,5% de sua empresa num pool de ações compartilhado. Se, em até dez anos, uma empresa é fundida, vendida ou coloca suas ações à venda em bolsa de ações, 30% do que é recebido fica com os mentores, 30% com os outros alunos da classe em que o empreendedor se formou, 25% com a sucursal local e 15% com o Instituto Founder.

O instituto diz que 42% dos participantes receberam financiamento externo em seus seis primeiros meses de operação e que cerca de 10% das empresas criadas faliram.

O Instituto Founder atrai empreendedores maduros, que já têm empregos outros; a média de idade dos alunos é 34 anos.

Mas alguns especialistas são céticos sobre o modelo de empreendedorismo feito no tempo livre das pessoas. "Gostamos de financiar pessoas que estão trabalhando em tempo integral sobre suas ideias e são especialistas mundiais", explicou Aziz Gilani, diretor da DFJ Mercury, firma de capitais de investimento baseada em Houston.

O Instituto Founder também ajuda pessoas a enxergar que talvez não estejam na posição certa para comandar uma start-up de crescimento. Phil Libin, mentor do instituto explica: "Eu pergunto às pessoas: 'Se eu pudesse garantir que você passará os próximos dez anos desenvolvendo um produto que milhões de pessoas vão usar, mas que você não ganhará dinheiro por dez anos e será um fracasso financeiro total, você faria, mesmo assim?'. A maioria responde 'não'. Outros desistem do programa depois dessa pergunta."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.