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Crise na Espanha leva à fuga de capital e pessoas

Por LANDON THOMAS Jr.

LONDRES - Julio Vildosola admite que é uma grande aposta. Depois de trabalhar seis anos como executivo em uma multinacional de processamento de folhas de pagamento em Barcelona, na Espanha, Vildosola está cortando os laços profissionais e financeiros com seu país, que enfrenta dificuldades econômicas.

Ele se mudou com a família para uma cidade perto de Cambridge, Inglaterra, e transferiu suas poupanças de bancos espanhóis para britânicos.

"A macrossituação na Espanha está piorando cada vez mais", disse Vildosola, 38, horas antes de pegar o avião para Londres com sua mulher e dois filhos pequenos. "Há riscos demais. A Espanha será a próxima depois da Grécia, e não quero acabar com pesetas desvalorizadas."

Vildosola está entre os muitos que temem que a queda econômica da Espanha possa forçá-la a se retirar do euro e voltar a sua antiga moeda, a peseta. Isto ainda é considerado exagero, mesmo que a Espanha possa pedir um resgate no estilo da Grécia. Mas não há dúvida de que muitos estão tirando seu dinheiro da Espanha, e em alguns casos também se mudando.

Em julho, os espanhóis sacaram um recorde de € 75 bilhões de seus bancos -equivalentes a 7% do PIB do país.

As retiradas aceleraram uma tendência que começou em meados do ano passado, e apesar do compromisso europeu de bombear até € 100 bilhões no sistema bancário espanhol.

O êxodo está começando a incluir membros da elite educada e empresarial da Espanha, que está cansada da falta de oportunidades de emprego em um país cujo índice de desemprego chega a 25%.

Segundo as estatísticas oficiais, 30 mil espanhóis se registraram para trabalhar no Reino Unido no ano passado e analistas dizem que esse número seria muitas vezes maior se fossem contados os trabalhadores sem documentos. É um aumento de 25% em relação ao ano anterior.

"Os ricos já tiraram seu dinheiro", disse José García Montalvo, um economista em Barcelona. "Agora são os profissionais liberais e a classe média que estão transferindo o dinheiro para a Alemanha e Londres."

O Banco Central Europeu concordou em 6 de setembro com um esquema para comprar quantidades ilimitadas de títulos da Espanha e outros países problemáticos da zona do euro, para reduzir os custos dos empréstimos e restaurar a oferta de crédito, mas não deixou claro o cronograma.

Em 31 de agosto, o fundo de resgate dos bancos espanhóis disse que precisaria bombear até € 5 bilhões no gigante das hipotecas Bankia, que o Estado encampou em maio. E em 1° de setembro a Andaluzia se tornou a última das regiões semiautônomas da Espanha a pedir socorro financeiro ao governo central.

O constante êxodo de dinheiro e pessoas da Espanha poderá ser uma advertência para os criadores de políticas europeus de que socorrer o país -um passo que hoje é amplamente esperado- poderá não conter o pânico enquanto a economia espanhola estiver em dificuldades.

Foi uma lição aprendida com a Grécia, onde apesar de sucessivos resgates europeus cerca de um terço dos depósitos foram sacados dos bancos desde 2009, enquanto o público temia que Atenas precisasse voltar à dracma.

A Espanha ainda está distante da quase falida Grécia: tem uma economia maior e mais diversificada, níveis menores de dívida e um mercado de títulos que ainda funciona.

Apesar de os depósitos no varejo e corporativos terem caído 10% em comparação com os de julho de 2011, a Espanha continua relativamente rica em poupanças. Mas, depois que começa, a fuga de depósitos bancários pode facilmente superar os fatos e as análises.

O que detonou a fuga foi a falência do Bankia, que chocou os poupadores espanhóis tranquilizados pelas autoridades de que o banco estaria em boa forma.

Algumas pessoas se dispõem a ir até Londres por um dia só para abrir uma conta lá, pois a maioria dos bancos da City exige que essas transações sejam feitas pessoalmente.

Foi o que fez Vildosola antes de decidir levar sua família para a Inglaterra. "É triste", disse. "Mas simplesmente não vejo um futuro para mim na Espanha agora."

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