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Frango une duas culturas

Por ANA FACIO-KRAJCER

LOS ANGELES - Sebastian Flores saiu da Al Salam Pollería levando de brinde um saco de cabeças de frango, ainda com penas brancas.

O imigrante Flores, 26, cliente habitual dessa avícola familiar "halal" (que segue preceitos muçulmanos), estava voltando de carro para a sua casa quando foi acometido por um forte desejo de comer frango.

Ele pretendia temperar as cabeças das aves e assá-las no forno, como costumava fazer em Puebla, sua cidade natal, no México.

Clientes como Flores são cruciais para a Al Salam, próspera avícola inaugurada há 28 anos "por acidente', segundo os proprietários.

Abdul Elhawary e seu cunhado Safwat Elrabat, que morreu há 12 anos, tiveram de abrir o seu estabelecimento na vizinhança de East Los Angeles.

Lá, ao contrário de em outras áreas, o zoneamento permitia o abate das aves no próprio local, como estipulam as regras alimentares islâmicas.

Havia poucos açougues e avícolas "halal" na região de Los Angeles na década de 1980, disse Elhawary, 60.

Era por isso que sua família, de imigrantes egípcios, esperava que muitos muçulmanos da cidade toda fossem estar dispostos a empreender a jornada até East Los Angeles atrás do frango adequado à sua religião.

Mas isso não aconteceu. Para surpresa deles, no entanto, outra clientela imigrante, essa da América Latina, apareceu em grande número.

"Foi uma coincidência muito feliz, e uma surpresa muito feliz, que os latinos estivessem interessados em frango fresco", disse Iman Elrabat-Gabr, 37, filha de Elrabat.

Para ser considerado "halal", um animal precisa ser abatido de acordo com os preceitos islâmicos, prática que a avícola Al Salam só segue quando algum cliente solicita.

"Por volta de 1989, quando notamos que 90% da clientela era latina, e que tínhamos só 10% de não-latinos, trocamos no nome nos cartões de visitas para Al Salam Pollería", disse Elhawary.

Originalmente a loja se chamava Al Salam Farms; "salaam" significa paz em árabe; "pollería" é avícola em espanhol.

Elrabat-Gabr conta que no começo os pés dos frangos iam parar no lixo. Os muçulmanos não queriam.

Mas logo sua família descobriu que, na cultura latina, os pés eram usados para fazer canja, e considerados uma iguaria para as crianças. Já as cabeças são um pedido raro e por isso vão de brinde para o cliente, segundo explicou ela.

"No sul da Califórnia, acreditamos que fomos a primeira avícola de muçulmanos a ter entendido que os latinos estão tão interessados quanto nós em frangos vivos -frangos frescos", disse Elrabat-Gabr, que ajuda a cuidar da loja em East Los Angeles.

A avícola deu tão certo que parentes deles já abriram três outras lojas em bairros latinos.

Hussam Ayloush, diretor-executivo da seção de Los Angeles do Conselho de Relações Americano-Islâmicas, disse que os latinos e os muçulmanos têm muito em comum.

"E às vezes até gostos alimentares, por causa dos muitos anos de interação entre os árabes muçulmanos da África e os espanhóis", disse Ayloush, casado com uma americana de origem mexicana, convertida ao islamismo.

"Estamos falando de uns 700 anos de muçulmanos vivendo na Espanha. E esses mesmos espanhóis vieram para a América Latina e trouxeram consigo grande parte dessa herança cultural árabe."

Adrian Pantoja, professor de política e estudos "chicanos" no Pitzer College, em Claremont, na Califórnia, disse que as famílias Elrabat e Elhawary ilustram as muitas maneiras como os empreendedores de difetentes etnias da cidade se adaptam.

"Para mim, é um exemplo de talvez centenas de milhares de lojinhas como essa em bairros latinos."

Flores, o cliente que ganhou um saco de cabeças de frango, diz ser frequentador assíduo. "Aqui eles tratam a gente bem e falam espanhol", afirmou. "É bom que eles estejam dispostos a aprender com outra cultura."

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