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Política energética de Romney virou à direita

POR SHERYL GAY STOLBERG

WASHINGTON - Mitt Romney, fiel às suas origens de filho de um executivo automobilístico, falava sobre carros. Em maio de 2006, Romney, então governador de Massachusetts, conversava com seu homólogo de Montana sobre sua ideia de um carro do futuro, de consumo eficiente -leve e estreito, com bancos alinhados, de modo que dois veículos poderiam trafegar lado a lado em uma pista de rodovia.

"Ele estava se animando sobre esses pequenos carros que percorreriam as estradas", lembrou o governador de Montana, Brian Schweitzer, em uma entrevista. Schweitzer, um democrata, riu, pensando em como os republicanos reagiriam. "Eu disse: 'Mitt, se um dia você se candidatar a presidente, não fale sobre isso'."

Hoje candidato republicano à Presidência, Romney está bem mais apto a falar sobre perfuração de petróleo do que carros de baixo consumo. Ele apresentou um plano para abrir mais terras e litorais para a prospecção de petróleo e gás, garantir a aprovação rápida para o oleoduto Keystone (que levará petróleo cru do Canadá para os Estados Unidos), pôr fim aos subsídios à energia eólica e solar e reduzir as regulamentações que desencorajam a queima de carvão para a geração de eletricidade. É uma agenda muito diferente daquela que ele delineou em seus primeiros tempos como governador.

Quando jovem, Romney teve uma aula de conservação em Michigan, onde seu pai, George, dirigia a American Motors Corporation. A empresa de automóveis, como suas concorrentes, comercializava grandes carros sedentos de gasolina e enfrentava dificuldades. George Romney reverteu a companhia comercializando o Rambler -um veículo sem muitos atrativos visuais, mas de baixo consumo de combustível. A revista "Time" o estampou na capa.

"Papai chamava os carros dos concorrentes de 'dinossauros bebedores de gasolina', uma expressão que ele ajudou a popularizar", escreveu Romney em seu livro "No Apology" [Sem desculpas].

Como governador de Massachusetts, ele povoou sua administração com ambientalistas, incluindo Gina McCarthy, que hoje dirige a divisão de limpeza do ar na Agência de Proteção Ambiental, sob o presidente Obama. Ele criticou as usinas energéticas altamente poluidoras do Estado, chamadas de "Cinco Imundas". Romney elaborou um "plano de proteção climática" e o citou como "entre os mais fortes de nosso país". Sob sua direção, Massachusetts ajudou a criar um programa regional de limitação de emissão e créditos de carbono -heresia para a maioria dos republicanos-, destinado a reduzir os gases do efeito estufa que, segundo os cientistas, causam o aquecimento global.

Mas, no último minuto, Romney se recusou a assinar o pacto contra a poluição que seus assessores haviam passado mais de dois anos negociando. A indústria havia se aposto ao plano, e alguns ex-assessores de Romney dizem que sua equipe política temeu que isso condenasse suas chances de se eleger presidente. Atual assessor de campanha, Oren Cass, disse que Romney simplesmente avaliou a proposta e "concluiu que os custos impostos à economia seriam altos demais".

Eric Kriss, que fundou a empresa de capital privado Bain Capital com Romney e o seguiu para o governo, tornando-se secretário das Finanças, disse que o processo simplesmente reflete o estilo de tomada de decisões de Romney.

"Eu acho que ele não ficou à vontade no final, mas não quis interromper uma atividade criativa", disse Kriss. "Foi assim na Bain Capital. Ele deixava um sócio tentar um acordo e no final dizia: 'Eu sei que você trabalhou nisso durante seis meses, mas não vamos fazê-lo'."

Hoje em Massachusetts os ambientalistas dão crédito a Romney por promover o crescimento inteligente e reduzir a poluição aérea, implementando duros regulamentos que reduzem algumas emissões tóxicas das usinas energéticas. Eles também o elogiam por assinar uma lei que impõe medidas de prevenção de vazamentos de petróleo. Mas muitos se sentem traídos por sua mudança de rumo no pacto sobre o clima.

"Ele estava à frente de seu tempo e era muito progressista", disse Jack Clarke, que foi nomeado por Romney para uma força-tarefa de gestão oceânica e hoje dirige políticas públicas na Mass Audubon, um grupo de conservação ambiental. Mas, segundo Clarke, no final de seu governo Romney parecia estar pensando mais na Presidência. "A agenda conservacionista que ele tinha não parecia vir de uma convicção profunda."

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