Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Romney patina na política externa

Por DAVID E. SANGER

WASHINGTON - O candidato republicano à Presidência dos EUA, Mitt Romney, tem intensificado seus esforços para se contrapor ao atual ocupante do cargo, Barack Obama, nas questões de segurança nacional, sugerindo que o presidente não soube lidar com o tumulto no mundo árabe e deixou o país exposto a um atentado terrorista na Líbia.

Num discurso em 8 de outubro, no Instituto Militar da Virgínia, Romney declarou que "a esperança não é uma estratégia". A essência do argumento de Romney é que ele devolveria os EUA a uma época anterior, restaurando, como disse o diretor de política externa da sua campanha, Alex Wong, "uma estratégia que nos serviu bem por 70 anos".

Mas, além de criticar Obama por não projetar o poderio americano no exterior, Romney ainda não preencheu muitos detalhes nem resolveu as profundas divergências ideológicas dentro da sua equipe de política externa. Trata-se de um grupo de consultores disparatado, que inclui tribos beligerantes de neoconservadores, conservadores tradicionais, adeptos da defesa forte e alguns "realistas" que creem haver limites na capacidade dos EUA de imporem sua vontade.

Só que, numa campanha tão pautada por questões econômicas, alguns desses assessores dizem ter tido tão pouca oportunidade de discutir segurança nacional com o candidato, que é impossível saber como ele iria governar se fosse eleito.

"Será que ele assumiria a liderança em bombardear o Irã se os mulás estivessem perto demais de uma bomba [atômica], ou simplesmente iria amparar Israel?", questionou recentemente um importante assessor.

"Será que ele pressionaria pela paz com os palestinos, ou simplesmente conviveria com o que já existe?"

Embora o tema da "fraqueza" na era Obama tenha apelo político, os detalhes do que Romney faria em questões como impor limites ao programa nuclear iraniano e ameaçar interromper a ajuda militar para aliados complicados, como Paquistão e Egito, soam às vezes bem parecidos com a abordagem de Obama.

O discurso de Romney parece ignorar as posições que ele tinha assumido há mais de um ano, quando se opôs à ampliação da intervenção na Líbia para derrubar Muammar Gaddafi, alegando carência de recursos. Também neste ano, Romney disse a doadores que não vê uma solução para o conflito entre israelenses e palestinos.

No entanto, um recente discurso de Romney propôs vagamente apoiar os "esforços [da Líbia] para forjar um governo duradouro" e perseguir os "terroristas que atacaram nosso consulado em Benghazi e mataram americanos", num incidente ocorrido em setembro.

Ele também disse que vai voltar a "comprometer a América com o objetivo de um Estado palestino democrático e próspero, convivendo em paz e em segurança" com Israel.

As mudanças, segundo meia dúzia de assessores de Romney, refletem parcialmente o fato de o candidato não ter se envolvido profundamente nessas questões na maior parte da campanha. Mas elas também revelam a continuidade das divisões internas.

Algumas delas estão prestes a se resolverem. Meses atrás, formou-se um "círculo íntimo" de consultores de política externa, com destaque para Richard Williamson, ex-funcionário do governo Reagan. Outro integrante central é Mitchell Reiss, veterano da campanha de Romney em 2008. Liz Cheney, que trabalhou no Departamento de Estado no governo Bush e é filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, também faz parte da equipe.

O grupo de política externa é supervisionado por Kerry Healey, que foi vice de Romney no governo de Massachusetts.

Dois dos assessores de Romney disseram que ele não parece ter na política externa os mesmos instintos afiados que demonstra na economia. Ele ressoa melhor, disse um deles, sob os conceitos de "projetar força" e "restaurar o crescimento econômico global". Romney parece não se preocupar com visões díspares dentro da sua própria campanha. Em algumas ocasiões, ele diz que quer espalhar a "liberdade americana" no Oriente Médio, em outras, diz que prefere simplesmente esperar -e limitar- a ascensão de governos islâmicos.

Em uma entrevista recente, Romney pareceu esquecer sua posição de que iria impedir o Irã de obter uma "capacidade" nuclear e deu a impressão de concordar com o presidente sobre simplesmente impedir que o Irã obtenha uma arma.

Em outro discurso, ele voltou a prometer que irá "impedi-los de adquirir a capacidade de construir armas nucleares" e discutiu "novas sanções ao Irã". No entanto, o presidente Obama já impôs aquelas que os republicanos do governo Bush concordam serem as mais duras sanções da história contra esse país.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.