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Testes de remédios ajudam saúde e economia da Rússia

Por ANDREW E. KRAMER

MOSCOU - Como a paciente dos sonhos do conselho de um laboratório farmacêutico, a avó russa aceitou, sem se queixar, os riscos do medicamento que estava tomando e suportou alegremente seus efeitos colaterais.

Como participante de um teste clínico na Rússia de uma droga experimental para a perda de peso, Galina Malinina precisava aplicar injeções diárias na barriga. "Sem problema", disse. Ela vomitou todos os dias durante duas semanas, mas manteve o regime, algo apreciado pelos laboratórios, já que desistências custam caro.

"É maravilhoso", disse ela sobre a substância testada, um soro desenvolvido pela Novo Nordisk, gigante dinamarquesa da biotecnologia. Além de perder 9 kg num ano, ela diz que se tornou "mais animada". "Ando com mais facilidade e tenho energia."

A disposição de Malinina e de milhares de outros russos para testarem remédios é vantajosa para os laboratórios globais, que enfrentam custos elevados e dificuldades de recrutamento nos Estados Unidos e na Europa.

Alguns pacientes aderem aos testes porque muitas vezes essa é a única forma de receberem atendimento médico moderno.

O governo do presidente Vladimir Putin, ávido por diversificar a economia e reduzir a dependência do país ao petróleo, acolhe os empregos e investimentos tecnológicos associados aos testes, além de facilitar o acesso dos laboratórios a pacientes russos. Por causa de uma lei aprovada em 2010, oficialmente por razões de saúde, os laboratórios estrangeiros precisam testar remédios em russos antes de comercializá-los na Rússia. Por isso, os reguladores aprovaram 448 testes clínicos no primeiro semestre deste ano, contra 201 no mesmo período de 2011. Os testes despejaram centenas de milhões de dólares em atividades de diagnóstico e tratamentos que, sem a lei, não estariam no país. Grande parte do negócio está no teste de medicamentos genéricos.

Cingapura, Coreia do Sul e China estão entre os países que oferecem incentivos ou obrigam os laboratórios a realizarem testes clínicos localmente, segundo John Lewis, vice-presidente da Associação de Organizações de Pesquisas Clínicas. Ele acrescentou que há benefícios para a economia, a saúde e a inovação.

E os laboratórios também se beneficiam, embora a associação não endosse essa motivação. "Os testes clínicos deveriam ser vistos como experiências, como investigações, não como tratamento", disse Lewis.

Os laboratórios que operam na Rússia incluem Bayer, Bristol-Myers Squibb, Eli Lilly, Novartis, Novo Nordisk e Pfizer. Eles usam os resultados dos testes como base para obter aprovação nos EUA.

Em março, a empresa americana Domain Associates decidiu investir conjuntamente com o governo russo cerca de US$ 760 milhões em 20 novas companhias de biotecnologia nos EUA. O investimento se destina a ajudar a Rússia a capacitar sua própria indústria biotecnológica, ainda incipiente.

Para cada 1 milhão de pessoas nos EUA, os laboratórios estão realizando 46,8 testes clínicos, segundo os institutos nacionais de saúde. Na União Europeia, a média é de 11,5, mas na Rússia é de apenas 3,3. Cerca de 5% dos testes clínicos feitos globalmente ocorrem na Rússia, enquanto cerca de 50% são nos EUA.

O Centro Nacional de Medicina Preventiva, um hospital de pesquisas em Moscou, está testando dezenas de novas drogas para laboratórios americanos e europeus, com diversos usos promissores e efeitos colaterais.

O engenheiro aposentado Folia Gonopolski, 83, está tomando comprimidos energéticos com sua mulher, Margarita. "Disseram que eu me sentiria melhor, e me senti", disse.

Inevitavelmente, porém, alguns testes dão errado.

Vera Belolipetskaia, supervisora da ala onde pacientes são observados em estágios preliminares dos testes, disse que certa vez um antibiótico experimental causou reações alérgicas.

"Era como no desenho 'Tom e Jerry', quando um personagem adoece", disse Belolipetskaia. "Pontos vermelhos começaram a aparecer por todo lugar, bem na frente dos meus olhos. Eles apareceram em poucos minutos. Foi realmente chocante."

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