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China ressuscita a rinha de grilos

Por ANDREW JACOBS
PEQUIM - Barrigão Vermelho, com suas pernas fortes, nutridas por uma dieta de fígado, tofu e gengibre, era um dos adversários. Mas, sob o olhar perplexo do seu treinador, o jovem lutador rondou nervosamente o rival, mais ameaçador, e então se encolheu num canto do ringue, sob vaias da meia dúzia de espectadores.
"Imprestável", rosnou seu empresário, Chang Hongwei, um engenheiro mecânico aposentado, enxotando Barrigão Vermelho da arena. "O próximo!"
Incontáveis grilos têm se enfrentado nos becos da capital, num milenar esporte chinês.
Estimulada pelos imperadores da dinastia Tang, a rinha de grilos foi proibida durante a Revolução Cultural (1966-76), por ser vista como uma predileção burguesa.
A atual retomada é liderada por uma geração mais jovem, ávida por passatempos chineses.
No ano passado, mais de 400 milhões de yuans (US$ 63 milhões) foram gastos na compra e criação de grilos, segundo o Instituto Ningyang de Pesquisas com Grilos, na província de Shandong.
Xangai tem atualmente mais de uma dúzia de mercados de grilos, e várias cidades, incluindo Pequim, realizam competições públicas.
"Com o aumento do padrão de vida, as pessoas têm mais tempo e dinheiro para despender, e querem hobbies ricos em história e significado", disse Wang Suping, dono da loja Delícias de Outono.
O estabelecimento é repleto de artigos para grilos - de gaiolas ricamente entalhadas, que custam centenas de dólares, até tigelas pintadas à mão para os minúsculos reis da luta.
Apostas ilegais atraem legiões. Em setembro, a polícia da província de Jiangsu estourou uma rinha, detendo 79 pessoas e apreendendo 100 lutadores.
Segundo a polícia, os proprietários apostavam 10 mil yuans (US$ 1.600) em cada combate. As apostas dos espectadores presentes superavam os 100 mil yuans.
A rinha de grilos continua sendo coisa de homens mais velhos. "Ela nos lembra da nossa infância, quando todo mundo era pobre, e você podia apanhar os grilos nos campos, logo depois dos muros da cidade", disse Chen Huihua, 72.
Embora hoje em dia balanças digitais dividam os lutadores em categorias separadas por centésimos de grama, os treinadores dos grilos continuam seguindo muitas das regras e recomendações de um manual do século 13.
Há um complexo sistema para alimentar, julgar as lutas e descrever os estilos de combate - "Rasteja como um tigre, luta como uma cobra", é a descrição de um golpe.
A temporada começa mesmo no verão, quando camponeses procuram os candidatos a gladiadores. Então começa o trabalho de formar um guerreiro.
As dietas podem incluir camarão, feijão e fígado de cabra. Os mais mimados podem de vez em quando tomar um banho de ervas, e degustar um ou dois vermes logo antes da grande luta.
Os adversários são jogados em lados opostos de um ringue. Quando a divisão é erguida, os respectivos donos usam gravetos para atiçar os insetos.
Às vezes leva apenas um minuto para se determinar se um aspirante dá para a coisa, se leva jeito e tem habilidade suficiente para o combate. A resistência às lutas é outra virtude valorizada
Um bom combatente dá um grito estridente, escancara as mandíbulas e ataca o adversário com coragem. Após dois ou três rápidos confrontos, o perdedor geralmente foge.
O vitorioso é recolhido com uma rede e jogado de volta no seu pote, para lutar num outro dia.

Li Bibo e Mia Li contribuiram com pesquisas

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