São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

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Diário de Bandung

Detenções desafiam islã moderado na Indonésia

Por NORIMITSU ONISHI

BANDUNG, Indonésia - Conhecida durante a época colonial como a "Paris de Java", a tranquila cidade de Bandung continua famosa na Indonésia por suas universidades, culinária, moda e vida noturna.
Por isso, a detenção de quatro mulheres por praticar "dança sensual" durante uma festa de Ano-Novo no bar Belair Coyote levantou temores de que esse seja o prelúdio a restrições mais amplas nessa e em outras cidades indonésias. As mulheres, assim como um organizador da festa, poderão ser os primeiros acusados sob uma lei "antipornografia" aprovada há um ano, que proíbe exibições públicas do corpo nu.
A lei teve um forte apoio dos pequenos mas influentes partidos políticos islâmicos do país. Mas, segundo seus críticos, a lei ameaça as ricas culturas pré-islâmicas da Indonésia, que há muito tempo coexistem com um islã tradicionalmente moderado.
Ainda não está claro o que aconteceu no Belair, que apresentava mulheres de biquíni dançando sobre um balcão de bar. O policial Arman Achdiat disse que as autoridades receberam queixas, via mensagens de texto, de que as dançarinas tinham ido além de dançar de biquíni, tendo oferecido aos clientes momentos de nudez total. Achdiat não quis informar se a polícia apanhou as dançarinas em flagrante.
Segurando uma cópia de 441 páginas da lei antipornografia, Achdiat disse que é preciso interrogar melhor as dançarinas para determinar se devem ser acusadas pela lei criminal ou pela lei antipornografia, mais severa. Esta preveria pena de até dez anos de prisão para as dançarinas e 15 para o organizador.
Clubes como o Belair chegaram a Bandung há mais de dez anos, e hoje cerca de dez deles oferecem o que é conhecido ali como "dança sexy", o que muitas vezes inclui um pouco de nudez, disse Budi Rajab, 49, sociólogo da Universidade Padjadjaran.
Dada Rosada, prefeito local que está no segundo mandato, tentou fechar o antigo bairro da "luz vermelha" da cidade, Saritem. "Ele existiu durante 200 anos, e eu o fechei", disse Rosada, acrescentando que queria manter o jogo e a dança sensual fora da cidade. "Se as pessoas querem jogar podem ir a Cingapura ou à Malásia. Se querem sexo, podem ir à Tailândia."
Mesmo com a repressão do prefeito, Saritem voltou à vida, embora os negócios ainda não tenham se recuperado totalmente. O governador de Java Ocidental, onde se situa Bandung, mencionou a lei antipornografia para criticar uma dança local chamada jaipong por ser sensual demais. A dança, enraizada na cultura de Java Ocidental, apresenta movimentos graciosos dos braços e das mãos, assim como meneios dos quadris.
Temendo que as tradições locais estejam sendo atacadas, o dançarino Nanu Munajah Dahlan formou um grupo de apoio ao jaipong nas redondezas de Bandung. "Sou muçulmano, mas também quero manter nossa cultura tradicional", disse.


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