São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2010

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Preservar a Terra pode afetar relacionamentos

Por LESLIE KAUFMAN
Gordon Fleming é, segundo ele mesmo, um sujeito ambientalmente sensível. Ele pedala 20 km até seu trabalho, em uma empresa de software perto de Santa Barbara, Califórnia. Ele recicla o máximo possível e leva sacolas reutilizáveis para a mercearia.
Mas, para sua namorada, Shelley Cobb, ele não faz o bastante.
Shelley o critica por deixar a água correndo por muito tempo enquanto se barbeia ou toma banho. E acha "deprimente" que ele continue comprando uma série de artigos on-line, quando seu objetivo é que eles levem uma vida menos materialista.
Fleming, que diz ter-se comprometido com Cobb "antes de sua fase de alta sacerdotisa", descreve seus conflitos como bem-humorados -na maioria.
Mas ele se recusa a sair com ela para comer sushi, segundo disse, porque não suporta mais ouvi-la interrogar os garçons pelo fato de os pratos servidos não serem sustentáveis ou locais.
Com o aumento da consciência sobre as preocupações ambientais, terapeutas dizem que tem havido mais brigas entre casais e membros de famílias sobre a medida em que eles devem modificar suas vidas para salvar o planeta.
Em muitas famílias, estão sendo traçadas linhas verdes entre os que insistem em comer salmão selvagem e os que compram peixes criados em cativeiro, os que calculam sua pegada de carbono e aqueles que continuam indiferentes aos gases do efeito estufa.
"Enquanto o enfoque para o clima aumenta na mente do público, tende a fazer parte do planejamento das pessoas sobre o futuro", disse Thomas Joseph Doherty, psicólogo clínico de Portland, Oregon, cuja prática se concentra em questões ambientais. "Isso afeta como eles vivem: o que comem, se querem voar [de avião], que tipo de férias querem ter."
Enquanto não há estudos que documentem a frequência desses choques, os terapeutas concordam que a questão verde pode rapidamente se tornar tóxica, porque tem uma grande carga moral.
Amigos ou parentes que não se dedicam à causa ambiental podem se irritar com as opções de vida que consideram ostensivamente sacrificadas ou politicamente corretas.
Aqueles que têm um enfoque acentuado para as questões ambientais, por outro lado, podem achar difícil deixar de comentar coisas que consideram prejudiciais à Terra -dirigir um enorme veículo esportivo-utilitário, por exemplo.
Sandy Shulmire, psicóloga que vive em Portland, confessa que, quando visita sua irmã em Abita Springs, Louisiana, não consegue resistir a criticá-la por não reciclar plástico e papelão, embora ela saiba que será vista como "mandona".
Cherl Petso, editora de uma revista on-line em Seattle, diz que as viagens para visitar seus pais em Idaho podem ser "tensas às vezes", em parte porque ela e sua mãe interpretam as respectivas opções como preconceituosas.
Linda Buzzell, terapeuta familiar e de casais que vive em Santa Barbara e é coeditora de "Ecotherapy: Healing with Nature in Mind" (Ecoterapia: a cura com a natureza em mente), adverte que as repercussões das diferenças ambientais podem ser especialmente severas para os casais.
"O perigo surge quando um parceiro passa por um processo de 'despertar' ambiental muito antes do outro, deixando entre eles uma brecha de novos valores", disse Buzzell.


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