São Paulo, segunda-feira, 01 de junho de 2009

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LENTE

Um lugar para se esconder

Apesar da proliferação de sites como Facebook e Twitter, que incentivam o fenômeno conhecido como "excesso de partilha", a maior atração da tecnologia pode ser a possibilidade de usuários anônimos mergulharem em temas tabus, subverterem esforços governamentais de controle e praticarem comportamentos malvistos pela sociedade educada.
Adolescentes americanos que têm vergonha demais para fazer perguntas íntimas a seus pais ou pares podem buscar ajuda por meio de seus celulares. Um serviço fundado no Estado da Carolina do Norte responde a perguntas anônimas via mensagens de texto.
"A tecnologia reduz o constrangimento e a vergonha", explicou ao "New York Times" Deb Levine, diretora executiva da Isis, organização sem fins lucrativos que lançou muitos programas sobre saúde reprodutiva baseados em tecnologia. "É a privacidade que as pessoas sentem que desfrutam quando estão digitando no computador ou celular. E é culturalmente apropriado para jovens: eles não aprendem sobre esse tipo de assunto com adultos lhes pregando sermões."
A informação é um dos bens mais valorizados on-line. Hoje, porém, mais de 20 países empregam sistemas de filtragem e bloqueio de conteúdos na internet, revela o Repórteres Sem Fronteiras, grupo que defende a liberdade de imprensa. Segundo reportagem de John Markoff publicada no "New York Times", os sistemas de filtragem mais agressivos são usados por governos autoritários como os de Irã, China, Paquistão, Arábia Saudita e Síria.
O governo frequentemente consegue controlar a informação, mas alguns cidadãos comuns têm encontrado uma forma de desviar-se dos censores on-line e proteger sua identidade. No ano passado, um download gratuito permitiu a até 400 mil iranianos navegar na internet sem censura, segundo Markoff. O software foi desenvolvido por partidários do Falun Gong, movimento espiritual reprimido pelo governo chinês desde 1999.
O cientista da computação Shiyu Zhou é um dos fundadores do grupo filiado ao Falun Gong que desenvolveu o software. Shiyu contou que, depois de o governo chinês ter reprimido ativistas pró-democracia na praça Tienanmen, em 1989, ele compreendeu o poder da mídia controlada pelo governo quando os manifestantes estudantis do país foram convertidos de heróis em assassinos. "Fiquei tão desiludido", disse Shiyu, que na época era estudante. "As pessoas acreditaram no governo, não em nós."
Mas, além de jovens interessados em sexo e cidadãos que buscam informações não censuradas, existe um mundo on-line mais sombrio, em que favores sexuais são trocados como se fossem livros de segunda mão negociados no Ebay.
Dois encontros recentes combinados nos EUA no site Craigslist resultaram em assassinatos tenebrosos. O Craigslist anunciou que fecharia sua categoria de serviços eróticos e que sua nova seção de serviços adultos seria monitorada. Mas parece pouco provável que o mercado on-line de sexo mude, principalmente devido à demanda.
Para o pesquisador Erick Janssen, associado ao Instituto Kinsey de Pesquisas sobre Sexo, algumas pessoas precisam mais que outras de sexo e de novidades sexuais. A Douglas Quenqua, do "New York Times", ele disse: "Sabemos, com base em pesquisas, que o anonimato pode elevar a satisfação na excitação sexual."


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