São Paulo, segunda-feira, 01 de junho de 2009

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ENSAIO

STEVE LOHR

Forasteiros cedem lugar às gigantes tecnológicas


MARAVILHAS SEM FIO
O rastreamento de computador por sensor melhora a eficiência e reduz o desperdício



Durante mais de uma década, a visão predominante da inovação foi que as pequenas empresas levavam vantagem. A inovação borbulhava do fundo. As grandes companhias não inovavam, e o governo atrapalhava.
Pesquisas de escolas de administração reforçavam a ideia de que a inovação vem naturalmente de forasteiros de pequena escala. Esse foi o ponto principal que uma geração de empresários, investidores e políticos tiraram do livro de Clayton M. Christensen, "The Innovator's Dilemma" (O dilema do inovador, 1997), que examina o processo da mudança perturbadora.
Mas uma mudança de pensamento está em curso, conduzida por novas circunstâncias. Em todo o mundo, os maiores desafios econômicos e sociais -e potenciais oportunidades de negócios- são problemas em campos multifacetados como o meio ambiente, a energia e a saúde, que dependem de sistemas complexos.
As soluções devem se ligar a uma rede maior de mudança moldada pela economia, regulamentação e política. O progresso, dizem os especialistas, dependerá de pessoas em um amplo leque de disciplinas e da colaboração em todos setores públicos e privados.
"Hoje em dia, mais que nunca, o tamanho importa no jogo da inovação", disse John Kao, ex-professor na Escola de Economia de Harvard e consultor em inovação. Em seu pacote de recuperação econômica, o governo Obama está financiando programas para gerar inovação com tecnologia em saúde e energia. O governo vai gastar bilhões de dólares para acelerar a adoção de registros eletrônicos de pacientes para ajudar a melhorar o atendimento e cortar os custos, e outros bilhões para promover a instalação das chamadas redes inteligentes, que usam sensores e medidores computadorizados para reduzir o consumo de eletricidade.
Esses sistemas são animados por sensores baratos e potência de computação cada vez maior, mas também exigem as técnicas para analisar, modelar e otimizar redes complexas, incluindo coisas tão diversas quanto padrões climáticos e comportamento humano.
Grandes companhias como GE e IBM, que empregam cientistas em muitas disciplinas, geralmente têm as técnicas e a escala para encampar esses projetos. Sua vantagem está em "ser capaz de integrar inovações em todos esses sistemas complexos", disse James E. Spohrer, cientista do Centro de Pesquisa Almaden da IBM na Califórnia.
As tendências tecnológicas também contribuem para elevar o papel das grandes companhias. O inventor solitário nunca será extinto, mas W. Brian Arthur, economista do Centro de Pesquisa Palo Alto (EUA), diz que, enquanto a tecnologia digital evolui, as inovações passo a passo são menos importantes do que unir todos os sensores, softwares e centros de dados nos sistemas.
Hoje, disse Arthur, o desdobrar da "digitalização da economia" é de certa forma uma repetição moderna de antigas ondas tecnológicas, da energia a vapor à eletricidade. "Não são as invenções individuais que importam tanto, mas quando grandes corpos de tecnologias se unem e têm um impacto em toda a economia", disse. "É o que estamos vendo hoje."
Na computação, algumas fronteiras tecnológicas exigem tamanho e dinheiro. Para ser competitivo em pesquisa na internet e alguns outros serviços da web, que atendem a centenas de milhões de usuários, uma empresa deve construir centros de dados de tamanho gigantesco, e poucas empresas podem criá-los e sustentá-los, como Google e Microsoft.
"Há apenas algumas companhias em condições de fazer computação e processamento de dados de uma maneira nunca feita antes", observou Richard Rashid, o vice-presidente de pesquisa da Microsoft.
Em um novo livro sobre o atendimento de saúde, "The Innovator's Prescription" (A prescrição do inovador), Christensen e seus coautores, Jerome H. Grossman e Jason Hwang, dizem que esses grandes sistemas integrados "têm o âmbito para criar dentro deles mesmos uma nova rede de valor perturbador".
Christensen, que é professor na Escola de Economia de Harvard, disse que as grandes companhias tendem a resistir à inovação perturbadora, mas que tamanho não precisa significar fracasso. "A boa notícia é que quando elas reconhecem os benefícios do pensamento, as grandes companhias têm todos os recursos necessários para promover as mudanças", escreveu.


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