São Paulo, segunda-feira, 01 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INTELIGÊNCIA

ROBERT KUTTNER

Vontade política para mobilizar a economia

A economia mundial pode ter evitado uma segunda grande depressão, mas poderemos evitar uma grande estagnação? Os indicadores não são promissores.
O colapso financeiro destruiu trilhões de dólares de capital, reduzindo tanto os rendimentos dos investidores quanto a capacidade dos bancos de emprestar. Essas perdas continuam derrubando a economia real.
Fomos poupados de uma depressão plena graças aos gastos públicos maiores em países como EUA e China; a dependência dos gastos em assistência social para sustentar a demanda na Europa; e o compromisso dos bancos centrais do mundo de fornecer ao sistema o dinheiro adequado.
Mas e agora? Está previsto crescimento negativo neste ano para todas as grandes economias, exceto China e Índia, com apenas uma fraca recuperação em 2010 e um alto desemprego prolongado. E aparentemente os governos em breve vão esgotar as ferramentas disponíveis.
A proporção da dívida nos EUA provavelmente aumentará de 40% para mais de 75% em apenas três anos. Para manter as economias flutuando, os bancos centrais têm rompido suas regras habituais de criação de dinheiro; mas não é prático reduzir as taxas de juros abaixo de zero. E, ao deixar de admitir que vários grandes bancos estão insolventes e agindo para nacionalizá-los e capitalizá-los, os EUA correm o risco de um crescimento lento prolongado, semelhante ao que o Japão experimentou na sua "década perdida" de 1990.
Então estamos condenados a uma queda indefinida? Sou otimista sobre a economia, mas pessimista sobre a política.
No final da década de 1930, quando os EUA continuavam mergulhados na depressão apesar do aumento de gastos públicos do New Deal, muitos economistas alegaram que não havia saída porque as exigências privadas básicas estavam satisfeitas e o governo estava fazendo tudo o que podia. Mas veio a Segunda Guerra Mundial.
Os EUA então passaram de quase 15% de desemprego para menos de 2% em 1943. Os déficits públicos aumentaram de alguns pontos do PIB para quase 30%. Como um subproduto da guerra, o país investiu maciçamente em ciência e tecnologia, treinou milhões de trabalhadores e recapitalizou a indústria.
A proporção de dívida em 1945 era de mais de 120%, mas caiu para menos de 30% porque o crescimento retornou. O sistema bancário estava rigidamente regulado para financiar o esforço de guerra.
O governo nunca teria embarcado nesse programa intervencionista se não fosse a emergência de guerra. Os governos podem fazer o mesmo na emergência econômica de hoje? Numa economia global, isso é mais difícil.
Não faltam candidatos para um aumento maciço em investimentos sociais para substituir a demanda privada em colapso -sendo a mais premente a conversão da economia energética. Existe uma necessidade igualmente urgente de restaurar o sistema bancário a seu papel adequado de financiar a economia real, em vez de operar seu próprio cassino especulativo.
Por isso, como uma questão puramente econômica, não estamos condenados a uma longa queda. Há muitos usos dignos para o investimento. A questão intrigante é se os líderes políticos mundiais vão definir os riscos para a economia e o planeta como comparáveis a uma emergência militar -e agir de maneira igualmente ousada.


Texto Anterior: Novos quebra-cabeças dão mais segurança à web
Próximo Texto: Ensaio - Graham Bowley: Conflitos que teimam em não acabar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.