São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2011

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LENTE

Estabelecimentos não cedem a exigências do freguês

Na bolha narcisista em que vivemos, todo o mundo é crítico e todo o mundo é estrela. Pensamos que somos capazes de fazer tudo e que sempre temos razão. E se as massas estiverem equivocadas? E se quanto menos vozes estiverem envolvidas melhor?
Deixe as coisas a cargo dos especialistas -e talvez nós mesmos não sejamos os especialistas.
Vários restaurantes e cafés começaram a dizer "não" a fregueses exigentes: não ao refrigerante diet; não, não vamos torrar seu bagel.
"As pessoas presumem que todo restaurante deva ser para todo o mundo", disse ao jornal "The New York Times" David Chang, cujos restaurantes Momofuku, que ficam em Nova York, se negam a fazer substituições ou a servir opções vegetarianas. "Em lugar de tentar produzir um menu que é para todos, façamos um menu que funcione melhor para o que nós queremos fazer."
Em Nova York, o restaurante "Zucco: Le French Diner" proíbe ketchup e Budweiser. No Spotted Pig, o hambúrguer vem com ou sem Roquefort; nenhum outro queijo é oferecido. E, em Chicago, Graham Elliot não serve café descafeinado em sua sanduicheria. Esses chefs puristas estão fazendo as coisas à moda deles, e não ao gosto do freguês.
E talvez esses fregueses devessem aprender a ter bons modos. Quando o Royal Ballet decidiu levar o balé para as massas, as massas levaram cerveja e nachos ao balé. Na apresentação de "Romeu e Julieta" que a companhia fez na 02 Arena, na zona leste de Londres, em junho, as arquibancadas foram ocupadas por 10 mil pessoas de todos os estratos sociais e profissionais, vestidas casualmente, mastigando, bebendo e andando de um lado para o outro, reportou o "Times".
A ideia era que o espetáculo fosse uma maneira de o balé romper com sua imagem elitista rarefeita, mas alguns dos presentes sentiram falta da sofisticação. Anja Tita, 40, disse que muitos não se sentaram quando a dança começou, e outros correram para as saídas antes do término da última cena do balé. "Não gosto de ver pessoas comendo pipoca durante um balé", ela disse ao "Times".
Mesmo que não seja mais esse o caso no balé, um ar de exclusividade ainda permeia o mundo da tecnologia. Muitas empresas estendem um cordão de isolamento digital para manter as massas à distância, convidando alguns seletos para testar seu novo serviço e dar feedback sobre falhas ou vírus. Empreendedores esperam conquistar a adesão precoce de usuários, gerar comentários e só depois disso atrair os usuários da maioria, disse o "Times". O Google+ limitou o acesso a seu serviço em julho, enquanto trabalhava para resolver os problemas do produto.
Comentários negativos podem espalhar-se rapidamente on-line, estourando a bolha de uma empresa antes mesmo de ela ter tido a chance de decolar, disse ao "Times" Susan Etlinger, consultora de tecnologia do Altimeter Group. O perigo está em "criar uma expectativa alta que pode não ser satisfeita, prejudicando a companhia mais tarde", disse ela.
É isso o que pode acontecer em alguns sites de moda do tipo faça-você-mesmo. Numa era de blogs sobre moda e desfiles de moda em reality shows, todo o mundo é candidato a estilista. Quando uma repórter do "Times" testou os serviços de três sites -PickYourPerfectPairBras.com, MakeYourOwnJeans.com e MilkandHoneyShoes.com-, as criações resultantes foram abaixo da crítica.
Jeans justíssimos feitos de brim fino, sapatos justos feitos de couro não flexível e um sutiã rosa-choque com bolinhas que não caiu bem em seu corpo -tudo isso levou a repórter a recomendar que as pessoas continuem a procurar as lojas varejistas locais, onde não faltam qualidade, conveniência e vendedores experientes.

ANITA PATIL

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nytweekly@nytimes.com



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