São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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General Motors aposta seu futuro numa custosa máquina elétrica

Por MICHELINE MAYNARD

DETROIT - O Chevrolet Volt, carro híbrido do tipo "plug-in" (pode ser carregado em uma tomada elétrica), só chegará aos showrooms no fim de 2010. Mas já está se curvando sob o peso de uma empresa inteira.
Executivos da General Motors, a maior e aparentemente a mais periclitante das três montadoras americanas, estão usando o Volt como elemento central de seus argumentos, apresentados a um Congresso cético, de que um socorro federal representaria um bom investimento no futuro da GM.
Em anúncios recentes, a empresa disse sobre o Volt: "Não é apenas um carro. É a visão de nosso futuro". Outro anúncio dizia que o veículo vai "reinventar a indústria automotiva por completo".
Existe em Detroit uma longa tradição de confiar num único modelo ou tecnologia para solucionar problemas maiores em pouco tempo. Mas já se discute se o Volt conseguirá cumprir tudo o que vem sendo prometido. E alguns analistas do setor observam que a GM tem histórico fraco em matéria de introduzir tecnologias verdes no mercado.
O Volt é uma grande aposta de longo prazo. Novos veículos costumam custar US$ 1 bilhão para serem desenvolvidos, e o Volt requer tecnologias novas que provavelmente inflarão mais ainda seu custo.
A GM diz que o carro, previsto para chegar aos showrooms dentro de dois anos, conseguirá andar 64 quilômetros com uma carga, mas também terá um pequeno motor movido a gasolina para ampliar essa distância para até mil quilômetros, usando a bateria e gasolina. A expectativa é que custe por volta de US$ 40 mil.
Para alguns, o Volt vai permanecer como veículo de nicho enquanto seu custo não cair muito e o volume de unidades produzidas não aumentar dramaticamente.
"Se você é rico e quer assumir uma postura ecológica, isso é uma coisa", comentou Ron Pinelli, analista da indústria automotiva. "Se é uma pessoa comum que usa o carro diariamente para ir ao trabalho, não vai gastar US$ 40 mil num carro elétrico. É insano."
Em 19 de novembro, durante as audiências recentes no Congresso com as três montadoras, o deputado republicano John Campbell perguntou se o Volt dará à GM o reforço financeiro que a empresa precisa. "O Volt pode ser um ótimo carro, mas a empresa não vai ganhar dinheiro com ele, pelo menos não num primeiro momento", disse ele.
Segundo a GM, não há nada como o Volt nas estradas dos EUA, pelo menos não neste momento. "Vamos para um modelo em que a fonte energética primária não é mais um motor de combustão interno, e sim elétrico", disse Jon Lauckner, vice-presidente de gerência global de programas da GM. "É uma mudança enorme no paradigma dos veículos." Quando o Volt chegar ao mercado, disse Lauckner, os consumidores vão se adaptar a ele mais rapidamente do que se adaptaram ao Prius, o carro híbrido gasolina-elétrico da Toyota.
"Nós nos convertemos numa sociedade "plug-in". Temos celulares e notebooks carregados na tomada. Até certo ponto, usar o Volt não é muito mais complicado, conceitualmente, do que carregar seu celular na tomada."
David Cole, presidente do Centro de Pesquisas Automotivas concordou que o Volt "mudará todo o jogo". Quando for lançado, disse ele, "poderemos dizer que a invenção chegou".
Muitas montadoras já estão desenvolvendo carros que podem ser carregados na tomada, entre elas a Mitsubishi, a Nissan e a BMW. A Toyota anunciou no ano passado que está trabalhando sobre um veículo híbrido "plug-in" que pode estar disponível até 2010, o que quer dizer que pode adiantar-se ao Volt. A Toyota não informou se vai vender o veículo ao público ou apenas a clientes de frotas. A GM não informou quando ou se pretende ganhar dinheiro com o Volt.
Cole atribuiu boa parte do custo mais alto do Volt a sua bateria de íon-lítio, cujo custo inicial ele estima em entre US$ 10 mil e US$ 15 mil por carro. Mas ele prevê que os preços das baterias poderão um dia chegar a um terço dos atuais, derrubando o preço do carro a US$ 30 mil e gerando ainda mais demanda (a GM espera, com o tempo, vender cerca de 60 mil unidades anuais). "Você não conseguirá implementar um alto volume até chegar a gerações futuras da tecnologia", disse ele.
As vendas do carro híbrido elétrico Prius, lançado nos EUA em 2000, foram baixas nos primeiros anos, até a Toyota lançar um modelo mais potente, em 2003. Elas aumentaram quando o petróleo encareceu, em 2005, e chegaram a um recorde em 2007, quando a Toyota vendeu mais de 180 mil unidades.
O Volt não é o primeiro veículo elétrico da GM. Em 1996 a empresa começou a alugar o carro elétrico EV1 a clientes na Califórnia, por um sistema de leasing. As primeiras centenas de donos adoraram o carro, mas a empresa o tirou de produção três anos mais tarde.
David Friedman, diretor da União de Cientistas Interessados, disse temer que a GM esteja prometendo demais com o Volt. Para ele, os moradores das cidades, consumidores que podem beneficiar-se mais do carro, talvez o achem inconveniente, já que não há lugar evidente para plugá-lo na tomada em ruas urbanas. "O Volt é um risco que vale a pena, mas para apostar seu futuro inteiro", disse Friedman. "Preocupa a possibilidade de que a GM esteja mais empenhada em construir sua imagem do que em desenvolver produtos."


ONLINE: MAIS CARROS VERDES
Micheline Maynard discute o Toyota Prius e o impacto potencial do Volt no blog Times Green Inc.: nytimes.com/business



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