São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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Queda nas vendas põe em risco plano chinês de evolução industrial

Por KEITH BRADSHER

GUANGZHOU, China — Será que as montadoras de carro chinesas precisam de um pacote de socorro? Diante de um desaquecimento preocupante, a indústria automobilística chinesa está discretamente pressionando o governo por ajuda, disseram altos executivos do setor.
No outono chinês deste ano, após seis anos de crescimento anual de 20% ou mais, as vendas de veículos estagnaram ou tiveram leve queda —um choque para um setor que contraiu empréstimos pesados para construir cada vez mais fábricas e atender à demanda de um mercado que parecia insaciável.
Citando o pacote de US$ 25 bilhões em empréstimos que o Congresso americano aprovou para ajudar suas montadoras a pesquisar carros mais econômicos, além dos US$ 25 bilhões adicionais pedidos pela indústria americana, executivos chineses dizem ao governo em Pequim que também querem ajuda emergencial.
Eles pedem impostos mais baixos sobre carros novos, redução nos preços dos combustíveis e mais verbas para pesquisas de carros híbridos e novas tecnologias.
“O governo chinês sem dúvida nos dará apoio”, disse She Cairong, gerente geral da JAC Motors. Ele acrescentou que nas últimas semanas, quando os reguladores bancários aliviaram as restrições à concessão de empréstimos à indústria pesada, os bancos estatais chineses vêm se mostrando mais dispostos a conceder crédito às montadoras.
Mesmo assim, ele e outros executivos disseram que, embora representantes do governo tenham expressado preocupação com o setor automobilístico, não se comprometeram a dar qualquer ajuda específica.
Michael Dunne, diretor-gerente para a China da consultoria de marketing J.D. Power, disse que as declarações dos executivos representam uma mudança na posição do setor automobilístico. “É a primeira vez que ouço isso”, disse ele, acrescentando: “Com o desaquecimento do mercado, as montadoras chinesas enfrentarão concorrência inédita”.
Os pátios de revendedoras em toda a China estão cheios de carros não vendidos, e as vendas em agosto e setembro foram um pouco inferiores às de um ano antes. Apesar disso, no início de outubro os fabricantes inesperadamente aumentaram em 10% em relação ao ano anterior o envio de veículos novos às revendedoras, buscando manter as fábricas em pleno funcionamento e evitar demissões. Mas as montadoras americanas constataram que aumentar a produção quando as vendas estão fracas intensifica os problemas, e isso pode se repetir na China.
A indústria chinesa está diante de várias ameaças simultâneas. O enfraquecimento econômico, a queda dos preços imobiliários e a queda das Bolsas, que já dura um ano, levam os consumidores a poupar. Os combustíveis continuam caros no país, e as exportações de carros chineses começam a diminuir.
A indústria automotiva chinesa já é maior que a japonesa. A China deve vender 10 milhões de veículos este ano, enquanto a demanda nos EUA cai para perto dos 14 milhões de veículos. Os automóveis vêm exercendo papel central no programa de Pequim de passar da produção de artigos baratos que requerem mão-de-obra pouco qualificada para produtos mais avançados. Com isso em vista, o governo vem dando ajuda considerável para os gastos das montadoras com pesquisas e desenvolvimento, além de lhes garantir empréstimos de bancos estatais.
As empresas ocidentais provavelmente se beneficiariam, pelo menos indiretamente, de qualquer nova iniciativa governamental para ajudar a indústria automotiva chinesa, porque as companhias ocidentais são obrigadas a fazer negócios por joint ventures com montadoras chinesas, a maioria das quais pertence parcial ou inteiramente ao governo.
Zheng Qinghong, gerente-geral de uma das maiores montadoras da China, a Guangzhou Auto, disse que empréstimos diretos do governo, do tipo que vem sendo discutido em Washington, não são necessários na China: “Por enquanto, nossa indústria não precisa ser socorrida.”

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