São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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INTELIGÊNCIA

Sobrevivendo aos mercados bipolares

ORI E ROM BRAFMAN

Se o mercado de ações de hoje fosse consultar um psiquiatra, o diagnóstico provavelmente seria distúrbio bipolar (psicose maníaco-depressiva), uma condição caracterizada por extremas oscilações de humor. Os mercados de ações globais sobem em um dia com notícias de socorro, apenas para mergulhar no dia seguinte depois de mais notícias ruins. Mercado feliz. Mercado triste. Feliz. Triste.
Os formuladores de políticas e os investidores precisam tentar entender por que o mercado reagiu de determinada maneira. Mas é um esforço inútil. É virtualmente impossível determinar as causas quando o mercado reage de forma tão maluca. Mesmo com o benefício da visão posterior, é difícil dizer como os fatos afetaram o mercado.
Agora, é claro que não devemos ficar sentados passivamente e deixar o mercado girar. Mas se está dedicando esforço demasiado para estabilizar e acalmar os mercados de ações, em vez de realmente curar a economia global doente. Precisamos aceitar que, sejam quais forem as políticas ou ajudas anunciadas, os mercados continuarão voláteis a curto prazo. Por mais doloroso que seja, precisamos deixar os mercados oscilarem.
Mas a situação está desgastando a confiança inerente dos investidores: existe uma crescente sensação de que o mercado perdeu a cabeça de vez, de que estamos rumando para uma segunda Grande Depressão. O mercado está sofrendo um colapso nervoso passageiro, ou se parece mais com um paciente que precisa ser internado?
Acreditamos que a condição seja passageira.
Em diversas ocasiões os mercados provaram ser estáveis no longo prazo, e não há motivos para pensar que esta tempestade em particular seja única - embora mais intensa que a maioria. Os números do desemprego causam preocupação, mas nem se aproximam dos níveis dos anos 1930. Os formuladores de políticas podem usar as lições da Grande Depressão para nos orientar. E temos um novo presidente armado com uma estratégia econômica agressiva.
O preocupante é que nos concentramos demais nas flutuações imediatas do mercado, quando deveríamos enfocar a cura da economia. Na verdade, temos dois pacientes em nossas mãos - o mercado e, mais importante, a economia.
Em longo prazo, os mercados são bons reflexos do estado da economia. Mas isso não vale para o curto prazo, quando experimentam um episódio bipolar.
Embora o diagnóstico a longo prazo do mercado seja promissor, os gurus financeiros estão pintando cenários de catástrofe para o futuro. É difícil digerir todas essas notícias sem entrar em pânico.
A solução é reconhecer que, embora não possamos fazer muito sobre as oscilações selvagens das Bolsas, há muito que podemos fazer para sanar a economia. Os incentivos fiscais, pacotes de ajuda bem planejados e um alívio sólido às hipotecas não apenas vão ajudar a economia a sarar, mas também contribuirão para a eventual recuperação das Bolsas, devolvendo-as a uma situação mais estável, não-bipolar - até que venha a próxima tempestade, é claro.
Os investidores inteligentes são aqueles que conseguem tolerar as oscilações, distinguem entre um episódio e uma condição psiquiátrica total e têm fé na saúde do mercado em longo prazo. Os formuladores de políticas inteligentes se concentrarão na economia e garantirão que o paciente certo esteja saudável. Economias saudáveis são tão vitais quanto investidores saudáveis


Ori Brafman e Rom Brafman são autores de "Sway: The Irresistible Pull of Irrational Behavior". Envie seu comentário a brafmans@nytimes.com.


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