São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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De rival a principal assessora: o degelo Hillary-Obama

Por ELISABETH BUMILLER

WASHINGTON - O degelo na relação ressentida entre a mulher mais poderosa do Partido Democrata e seu rival mais jovem começou na convenção do partido, alguns meses atrás, quando a senadora Hillary Clinton fez um discurso tão exaltado de apoio ao senador Barack Obama que seus assessores principais saltaram das cadeiras para ovacioná-la em pé.
Obama, que começava o que se tornaria um cortejo estratégico de Hillary, telefonou mais tarde para agradecê-la. Naquele momento, disseram assessores próximos de Hillary, ela já passara a respeitar a campanha que Obama fez contra ela. No mínimo, ela sabia que ele compreendia como ninguém as tensões brutais da épica batalha que eles travaram nas primárias.
Em 20 de novembro, quando Obama garantiu a Hillary que, como secretária de Estado, ela terá acesso direto a ele e poderá escolher sua própria equipe de assessores, o processo de aproximação se completou.
"Ela se sentiu bem pela maneira como foi convidada", disse uma pessoa próxima a Hillary.
Poucos prevêem que esse novo relacionamento nascido de respeito mútuo e auto-interesse de ambas as partes evolua para uma ligação estreita entre o novo presidente e a mulher que será o rosto de sua política externa, mas alguns dizem que não é impossível que isso aconteça. Eles argumentam que uma amizade estreita entre os ocupantes dos dois cargos de maior poder no país é útil, mas não essencial, e que não é base para prever o êxito da chefe de diplomacia do país.
James A. Baker 3° era extraordinariamente próximo de George Bush pai e é visto como um dos secretários de Estado de atuação mais bem sucedida da história recente, mas Dean Acheson não era amigo de Harry Truman e Henry Kissinger não gostava muito de Richard Nixon.
"Dois dos maiores secretários de Estado do período moderno, Dean Acheson e Henry Kissinger, não tinham proximidade pessoal com seus presidentes, mas tinham vínculos intelectuais com eles", disse Walter Isaacson, autor de uma biografia de Kissinger e, com Evan Thomas, co-autor de "The Wise Men" (Os sábios), livro sobre o establishment americano de política externa no pós-guerra. "Acho que Obama e Hillary Clinton podem formar uma parceria perfeita, baseada no respeito mútuo por suas respectivas visões de mundo."
Na relação Obama-Hillary, dizem assessores, a natureza relativamente tranqüila de suas discussões sobre a indicação ao cargo de secretária de Estado indicam que, por ora, os dois têm uma química que vem funcionando, apesar de suas divergências na campanha em relação a pontos como a guerra do Iraque. Os assessores dizem que Obama está claramente interessado em incluir uma rival em seu grupo e que reconhece que Hillary Clinton possui muito mais disciplina e foco que seu marido.
Ao mesmo tempo, disseram assessores de Obama, este possui a autoconfiança necessária para nomear como sua emissária ao mundo alguém cujo nome já é uma marca global. Ele reconhece que a partir de 20 de janeiro terá que construir o tipo de relacionamento que garanta que os líderes de outros países saibam que, quando Hillary falar, estará falando diretamente por ele.
"Ajuda ter um relacionamento como o que Bush tinha com Baker, sem dúvida", comentou Martin Indyk, ex-embaixador dos EUA em Israel e partidário de Hillary nas primárias. "Mas, se eles forem vistos trabalhando juntos com eficácia, acho que isso pode ser superado facilmente. Obama não teria optado em nomear Hillary se não quisesse que ela fosse eficaz no cargo."
Um assessor próximo de Obama disse que o eleito também percebeu que as habilidades políticas de Hillary serão muito úteis a ela no cargo, como foi o caso de Baker e Kissinger. "Eles compreenderam que a arte do estadista é a política descrita com outro nome", disse o assessor.


Colaboraram Jeff Zeleny, de Chicago, e Mark Leibovich, de Washington


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