São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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LENTE

Fala de papagaio assinala avanços dos deficientes

Jim Eggers, de St. Louis (EUA), sofre de desordem bipolar e tem um histórico de explosões psicóticas violentas. Hoje em dia, porém, quando ele está prestes a explodir, Sadie, sua companheira constante, está presente para acalmá-lo.
“Está tudo bem, Jim”, diz Sadie. “Calma, Jim. Está tudo bem com você. Eu estou aqui, Jim.”
Sadie não é terapeuta, enfermeira ou namorada de Jim. É um papagaio fêmea. E, como relatou Rebecca Skloot na “The New York Times Magazine”, ela faz parte de um zoológico crescente de animais de serviço que ajudam portadores de deficiências mentais e físicas. Há pôneis que atuam como guias de cegos, macacos que ajudam tetraplégicos, e furões, porcos, iguanas e patos que ajudam a reduzir a ansiedade de pacientes.
Mas, embora as leis dos EUA garantam que animais de serviço possam ir a qualquer lugar com seus donos, ainda são travadas disputas legais sobre o que é um animal de serviço apropriado e se uma cabra, por exemplo, pode entrar num restaurante. Jim Eggers registrou uma queixa contra uma universidade de St. Louis, depois de Sadie ter sido barrada ali.
O fato de tal discussão estar sendo travada sinaliza os avanços dos deficientes, após anos de lutas para conquistarem direitos fundamentais. Hoje, em muitas partes do mundo, uma deficiência costuma ser um impedimento menor às oportunidades. E avanços tecnológicos mostram um futuro ainda mais promissor.
Mas há lugares que ainda vivem na idade das trevas.
Na Bulgária, na Hungria e em outros países do leste europeu, doentes mentais ainda são sujeitos a normas remanescentes da era comunista. Como reportou o “New York Times”, guardiões legalmente indicados exercem poder sobre cada aspecto da vida desses deficientes. E até os que têm doenças mentais brandas frequentemente terminam confinados em instituições deprimentes, destituídos de seus direitos básicos.
“Chamamos a isso de morte civil”, disse a advogada Victoria Lee, que defende deficientes mentais em Budapeste. “Uma vez que a pessoa é posta sob a tutela de um guardião, está acabada. Basicamente, ela se torna uma não-pessoa.” Em Uganda, os direitos dos deficientes ainda mal passam de um rumor. Há poucas rampas para cadeiras de rodas, cães-guia são algo quase inusitado, e há pouca ou nenhuma assistência do governo. Mas os estimados 500 mil cegos de Uganda hoje têm um novo herói.
Depois de perder a visão há 12 anos, Bashir Ramathan passou a viver com dificuldade, graças à caridade de uma mesquita. Mas se firmou numa área incomum: o boxe. Dotado de inteligência ágil, um jab mais ágil ainda e olfato e audição finamente sintonizados, Ramathan vem enfrentando pugilistas profissionais vendados em lutas que são acompanhadas com enorme atenção em toda a África. Seu sonho é criar uma liga mundial de boxe de deficientes visuais.
“Se cegos podem praticar luta livre ou arremessar dardos, por que não poderiam lutar boxe?”, questiona ele.
Quer seja na África ou nos EUA, porém, uma nova onda de tecnologia computadorizada pode transformar as vidas dos deficientes mais que qualquer avanço anterior. James Flanigan relatou no “New York Times” que estão sendo testados artefatos capazes de ler sinais e códigos de barra e controlar computadores com ondas cerebrais e movimentos dos olhos. Os novos instrumentos podem mostrar-se mais inteligentes que qualquer cão-guia e mais ágeis que um macaco. Mas, em matéria de companheirismo e apoio emocional, é provável que nunca se igualem nem mesmo à mais humilde iguana.


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