São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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No Paquistão, rádio intensifica terror semeado pelo Taleban

Por RICHARD A. OPPEL JR. e PIR ZUBAIR SHAH

PESHAWAR, Paquistão - Todas as noites, por volta das 20h, os apavorados moradores de Swat, um vale fértil e pitoresco a 160 quilômetros de três das mais importantes cidades do Paquistão, se reúnem em volta de seus rádios. Eles sabem que deixar de ouvir e não tomar conhecimento das novidades pode levar a um açoitamento —ou decapitação.
Na maioria das noites, um líder local do Taleban, Shah Doran, com um radiotransmissor portátil, divulga atividades “anti-islâmicas” que acabam de ser proclamadas como tal e que estão sendo cometidas em Swat, como vender DVDs, assistir à TV a cabo, cantar, dançar, criticar o Taleban, raspar barbas ou autorizar meninas a ir à escola. Ele também anuncia os nomes das pessoas que o Taleban matou por violar seus decretos e das que pretende matar.
“Eles controlam tudo pelo rádio”, disse um morador de Swat que se negou a dar seu nome, por temer o Taleban. “Todo o mundo aguarda a transmissão.”
As atenções internacionais seguem voltadas ao domínio do Taleban sobre as áreas tribais semiautônomas paquistanesas, de onde o grupo lança ataques contra as forças americanas no Afeganistão. Para o Paquistão, porém, a perda do vale do Swat pode ser igualmente devastadora.
Diferentemente das áreas tribais que fazem fronteira com o Afeganistão, Swat, uma região povoada por 1,3 milhão de pessoas, faz parte do Paquistão propriamente dito, estando ao alcance de Peshawar, Rawalpindi e da capital, Islamabad.
Após mais de um ano de combates, virtualmente todo o Swat hoje se encontra sob controle do Taleban, que também já abocanhou uma parte considerável do país. E está implementando uma interpretação rígida e cruel do islã, levando decapitações públicas, assassinatos políticos, repressão social e cultural e perseguição das mulheres a uma região antes independente e relativamente secular.
Setenta policiais foram mortos a tiros, decapitados ou mortos de outras maneiras em Swat, e 150 ficaram feridos, disse Malik Naveed Khan, inspetor geral da polícia na Província da Fronteira Noroeste. Para não serem mortos pelo Taleban, muitos policiais vêm publicando anúncios nos jornais, comunicando a renúncia a seu trabalho.
Na visão de analistas, o pesadelo crescente em Swat exemplifica os problemas do Paquistão: um governo civil ineficaz, somado a forças militares e de segurança que, na opinião de residentes revoltados, permitiram que os militantes espalhassem o terror por boa parte do território.
A crise já se tornou um teste crítico do governo do presidente civil Asif Ali Zardari e do aparato de segurança cujas lealdades, segundo muitos paquistaneses, ainda são duvidosas. Recentemente o governo de Zardari criticou “tentativas anteriores e feitas pela metade de afastar extremistas da área” e prometeu combater os militantes “que estão impiedosamente assassinando e aleijando nossos cidadãos”.
Sem uma ação mais forte e coordenada do governo, avisam alguns, a ameaça do Taleban no Paquistão deve se espalhar.
As acusações de que falta vontade aos militares de combater o Taleban em Swat são “injustas e injustificadas”, segundo o general Athas Abbas, porta-voz das Forças Armadas paquistanesas, dizendo que 180 soldados e oficiais do Exército foram mortos em Swat nos últimos 14 meses.
Recentemente, Shah Doran declarou na rádio que o Taleban pretendia matar um policial que, segundo ele, era responsável por três mortes. “Já enviamos pessoas. Amanhã vocês terão uma boa notícia”, disse ele, segundo um morador de Matta, um dos redutos do Taleban. No dia seguinte, o corpo decapitado do policial foi encontrado nas proximidades.
“A população local está farta de tudo isso e, se pudesse, lincharia cada Taleb”, disse Naveed Khan. “Mas o Taleban é tão cruel e violento que ninguém o enfrenta. Se não se puser um fim a isso, o Taleban vai se espalhar a outras partes do Paquistão.”


Colaborou Ismail Khan


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