São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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Casa quente, mas sem sistema de aquecimento

Por ELISABETH ROSENTHAL

DARMSTADT, Alemanha - Vistas por fora, não há nada de incomum nas novas casas geminadas cinzas e cor de laranja no distrito alemão de Kranichstein, em Darmstadt. Mas elas fazem parte de uma revolução na construção imobiliária. Não há vento frio, não há pisos frios de lajotas, ninguém precisa aninhar-se debaixo de cobertores até o sistema de aquecimento começar a fazer efeito. Na verdade, não há aquecimento.
Na casa de Berthold Kaufmann existe, sim, um aquecedor de emergência na sala —mas não está sendo usado. Mesmo nas noites mais frias, a nova “casa passiva” de Kaufmann e outras construídas com o mesmo projeto recebem todo o calor e a água quente de que precisam a partir da quantidade de energia que seria necessária para acionar um secador de cabelo. “A gente nem pensa na temperatura. A casa simplesmente se ajusta”, disse Kaufmann, olhando sua filha de dois anos, de camiseta na sala da casa, em pleno inverno europeu. Sua casa gasta mais ou menos 5% da energia usada para aquecer a casa de seus pais, do mesmo tamanho.
Na tentativa de obedecer a novos padrões de eficiência energética como o padrão Liderança em Design Ambiental e Energético, nos EUA, arquitetos em muitos países estão projetando casas dotadas de melhor isolamento térmico e eletrodomésticos com alto grau de eficiência energética, além de empregar fontes alternativas de energia, como painéis solares e turbinas de vento.
Aplicado pela primeira vez nesta cidade de 140 mil habitantes próxima a Frankfurt, o conceito da casa passiva enfrenta o desafio desde um ângulo diferente. Usando isolamento térmico superespesso e portas e janelas de design complexo, o arquiteto cria uma casa envolta num invólucro à prova de ar, de modo que praticamente nenhum calor escapa e nenhum frio entra. Isso significa que uma casa passiva pode ser aquecida não apenas pelo sol, mas também pelo calor de seus eletrodomésticos e até mesmo dos corpos de seus moradores.
E, na Alemanha, as casas passivas custam apenas entre 5% e 7% mais para serem construídas que as casas convencionais. Tentativas feitas algumas décadas atrás de criar casas aquecidas por energia solar e termicamente isoladas fracassaram, devido ao ar estagnado e ao mofo. Mas as novas casas passivas empregam um sistema engenhoso de ventilação central. O ar quente que sai passa ao lado do ar frio e limpo que entra, trocando calor com eficácia de 90%.
“O mito anterior era que, para estar aquecido, era preciso ter aquecimento. Nossa meta é criar uma casa aquecida sem demanda de energia”, disse o engenheiro Wolfgang Hasper, do Instituto Passivhaus (que significa casa passiva), em Darmstadt. “Não se trata de usar agasalhos grossos, abaixar o termostato e conviver com ventos frios. Trata-se de viver confortavelmente com menos energia, e conseguimos isso reciclando o calor.”
Hoje há estimadas 15 mil casas passivas espalhadas pelo mundo. A imensa maioria foi construída nos últimos anos em países de língua alemã ou na Escandinávia.
A primeira casa passiva foi construída em Darmstadt em 1991 pelo físico local Wolfgang Feist, mas a difusão da ideia foi retardada por problemas linguísticos. Os cursos e a literatura especializada eram em sua maioria em alemão, e mesmo hoje os componentes das casas são produzidos em massa apenas nesta região.
Mas a proposta está avançando. Escolas em Frankfurt já são construídas com essa técnica. A Comissão Europeia também está promovendo a construção de casas passivas, e o Parlamento Europeu propôs que até 2011 as novas construções se adequem a tais padrões. O Exército dos EUA, há anos presente nesta região da Alemanha, estuda construir quartéis no sistema da casa passiva. “Estamos tendo dificuldade em suprir a demanda”, disse Hasper.
Só que a maioria das casas passivas prevê área de mais ou menos 45 metros quadrados por pessoa —espaço confortável, mas não grande. Por isso, Hasper diz que pessoas que querem casas muito maiores devem procurar outros projetos.


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