São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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Golfo almeja liderar em energia limpa

Por ELISABETH ROSENTHAL

ABU DHABI, Emirados Árabes Unidos - Com uma das pegadas de carbono mais altas do mundo, emirados ricos em petróleo poderiam parecer um lugar improvável para uma revolução verde. Mas líderes da região, que construíram sua riqueza com o petróleo, compreendem que ele é um recurso finito e vulnerável à concorrência de novas fontes de energia.
Por isso, enquanto o presidente Barack Obama fala em promover empregos verdes como saída para a recessão nos EUA, países do golfo Pérsico, incluindo Emirados Árabes Unidos, Qatar e Arábia Saudita, estão fazendo um esforço conjunto para se transformar no Vale do Silício da energia alternativa. Começaram a despejar agressivamente os bilhões de dólares ganhos nos campos de petróleo em tecnologias verdes e estão criando fundos de investimento de energia limpa, aplicando milhões de dólares em projetos de pesquisa em universidades de Califórnia, Boston e Londres e montando parques de pesquisa verde.
“Abu Dhabi é um emirado exportador de petróleo, e queremos nos tornar um exportador de energia. Para isso precisamos nos superar em novas formas de energia”, disse Khaled Awad, diretor da Masdar, uma cidade futurista de “zero carbono” e um parque de pesquisa afiliado ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), que está surgindo do deserto nos arredores de Abu Dhabi.
Esse novo investimento pretende manter a posição dominante do golfo como fornecedor global de energia, ganhando patentes de novas tecnologias e promovendo indústrias verdes. Mas se EUA e União Europeia estabeleceram a independência energética dos países do golfo como meta em suas iniciativas de energias renováveis, talvez descubram que chegaram à festa atrasados.
“A liderança nessas tecnologias avançadas é um título que os EUA podem perder com facilidade”, disse Peter Barker-Homek, executivo-chefe da Taqa, a companhia de energia nacional de Abu Dhabi. “Aqui temos impostos baixos, população jovem, acessibilidade ao mundo, recursos naturais abundantes e disposição para investir em capital inicial.” A visão de um futuro renovável no golfo não se baseia tanto em um sentimento verde quanto em uma análise do futuro econômico local e do estilo de vida de seus habitantes.
“Os países do golfo desenvolveram um infraestrutura moderna e uma bela arquitetura, mas a um alto custo ambiental”, disse Awad, da Masdar, parado em um campo com 40 tipos de painéis solares que os engenheiros do projeto estão testando e usando para abastecer os escritórios.
“Sabemos que não podemos continuar com essa pegada de carbono”, disse. “É por isso que Abu Dhabi precisa desenvolver novos modelos —para o planeta, é claro, mas também para não pôr Abu Dhabi em risco.” O príncipe real de Abu Dhabi anunciou em janeiro passado que investiria US$ 15 bilhões em energia renovável. É a mesma quantia que Obama propôs investir, em todos os EUA, “para catalisar esforços do setor privado na construção de um futuro energético limpo”.
Masdar, a cidade-modelo que não vai gerar emissões de carbono, está ligada às ambições do príncipe. Projetada pelo arquiteto britânico Norman Foster, ela incluirá um campus satélite do MIT, assim como um parque de pesquisas com laboratórios afiliados ao Imperial College de Londres.
Na Arábia Saudita, a nova Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah, estatal (Kaust na sigla em inglês) deu a um cientista da Universidade Stanford US$ 25 milhões no ano passado para iniciar um centro de pesquisa que torne o preço da energia solar competitivo com o do carvão. A Kaust, que está em seu primeiro ciclo de bolsas, também deu US$ 8 milhões a um centro da Universidade da Califórnia em Berkeley que desenvolve concreto verde. “O impacto foi enorme”, disse Michael McGehee, professor associado de Stanford que recebeu a bolsa saudita de US$ 25 milhões. “Acelerou enormemente o processo de desenvolvimento.”
Diretor do maior grupo de pesquisa de células solares do mundo, McGehee havia tentado, sem sucesso, obter dinheiro do governo dos EUA ou de indústrias americanas para comercializar painéis solares mais baratos.
Com o dinheiro saudita, ele contratou 16 pesquisadores e espera que novas células de energia dominem o mercado até 2015. “As pessoas ficam surpresas ao ver o tamanho dessa bolsa e de onde ela veio”, ele disse, notando que suas antigas verbas do governo americano eram de US$ 160 mil.
Sem uma história industrial, os países do golfo dizem ter a vantagem de começar do zero no desenvolvimento de manufaturas verdes; países como os EUA são obrigados a reformar indústrias em dificuldades, como a de automóveis.
Apesar de os países do golfo não terem demonstrado antes grande interesse pela energia verde, como eólica ou solar, eles têm outra vantagem, disse Awad, de pé no deserto ofuscante: “O sol brilha 365 dias por ano”.


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