São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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Embarcação híbrida ajuda pescadores

Por MARTIN FACKLER

OTOSHIBE, Japão - O Shinei Maru N° 66 se parece com outras dezenas de barcos de pesca ancorados no porto japonês. Mas seus construtores dizem que é a primeira traineira híbrida do mundo. Ao mudar entre propulsão a diesel e elétrica, ela gasta um terço menos combustível que os barcos convencionais. “É como um Prius do mar”, disse Tadatoshi Ikeuchi, 62, dono e capitão do barco, em referência ao carro híbrido.
Até recentemente, os pescadores comerciais de todo o mundo trabalhavam sob o fardo dos altos preços do combustível. Na Europa, no ano passado, pescadores manifestaram sua frustração bloqueando portos em protesto contra os preços e impostos.
Enquanto isso, o Japão procura soluções de alta tecnologia. O motor híbrido do barco, ainda um protótipo, faz parte de uma iniciativa de milhões de dólares do governo para salvar a indústria pesqueira do Japão dos altos custos da energia, que deve aumentar de novo quando a economia global começar a se recuperar.
Como parte do programa iniciado há dois anos, os japoneses também testam motores marítimos movidos a biocombustível, hélices projetadas por computador e luzes LED de baixo consumo nos pesqueiros de lulas, que usam fortes luzes para atrair o pescado.
Existe um vasto mercado internacional para essas soluções. Muitos motores de barcos japoneses que usam computadores para aumentar a eficiência do consumo já são populares entre pescadores americanos. E, em Tóquio, a Yamanaka, fabricante do motor híbrido da traineira, que é chamada de Fish Eco, diz que os EUA e a Europa são grande mercados potenciais.
O Ministério da Agricultura e da Pesca japonês, que liderou o desenvolvimento tecnológico, subsidiará sua adoção como parte de um pacote de US$ 700 milhões, anunciado em julho de 2008 para ajudar a indústria pesqueira.
Mas os pescadores dizem duvidar que a iniciativa seja suficiente para romper a profunda sensação de mal-estar que aflige as comunidade pesqueiras japonesas.
O número de pescadores profissionais do país encolheu 27% na última década para 204.330 no ano passado prejudicado pela queda da taxa de natalidade e a migração dos jovens para as cidades, segundo a Federação Nacional de Associações de Cooperativas de Pesca.
A federação adverte que o aumento do preço dos combustíveis poderá forçar mais 25 mil a 45 mil pescadores a abandonar a atividade. Antes da recente redução de preços, o combustível para navegação, conhecido como óleo pesado, representava cerca de 20% a 30% dos custos de um pescador no Japão, quase o dobro da proporção de três anos atrás.
Eles não podem transferir o aumento para os clientes na forma de preços mais altos do pescado, por medo de perder as vendas para as importações mais baratas de concorrentes asiáticos como China e Vietnã. Também temem que os preços mais altos possam incentivar a mudança de gosto dos consumidores japoneses, abandonando a tradicional dieta básica de pescado —tendência conhecida como “sakana banare”, ou fuga dos peixes.
“Preços mais altos vão incentivar os japoneses a comer mais hambúrgueres e frango frito”, disse Nobuhiro Nagaya, diretor-executivo da federação de pesca.
Enquanto seus projetos de milhões de dólares lembram as iniciativas tecnológicas promovidas pelo governo décadas atrás, as autoridades expressam expectativas bem mais modestas em uma era de orçamentos apertados e crescimento econômico limitado.
“A tecnologia não pode ser a única resposta”, disse Kazuo Hiraishi, assistente do ministério. “Mas a excelência do Japão em eletrônica e economia de energia pode ajudar os pescadores.”


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