São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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Arte & Estilo

Sherlock Holmes, um herói de ação

Por SARAH LYALL

LONDRES - Num sujo e úmido labirinto de salas sob as ruas do East End de Londres, Sherlock Holmes estava solucionando um caso. Isto é, Robert Downey Jr., fazendo o papel do detetive no filme ainda inédito “Sherlock Holmes”, enfrentava um vilão (Robert Maillet) com socos e chutes no estômago. Os dois personagens acabariam no chão, nocauteados, ao lado do fiel companheiro de Sherlock, dr. Watson, representado por Jude Law.
Filmada em dezembro, a cena imprimiu uma mudança acentuada à visão cinematográfica popular de Holmes, pelo menos a que é propagada pelos filmes antigos estrelados pelo ator britânico Basil Rathbone. O Holmes de Rathbone ocasionalmente empunhava uma arma, saltava de uma carruagem e corria em meio à neblina com ar aventureiro, mas na maior parte do tempo era um cérebro gigante dentro de um terno de tweed, jovial e assexuado como Hollywood gostava que fossem seus protagonistas nos anos 1930 e 1940. Seu Watson, representado por Nigel Bruce, era um sujeito simples e bem-humorado que servia para realçar o brilho frágil de Holmes.
Já o Sherlock de “Sherlock Holmes”, previsto para chegar aos cinemas dos EUA em novembro, vai ser mais inteligente que qualquer pessoa num raio de três planetas e vai conservar a capacidade bizarra do personagem original de intuir histórias de vida inteiras a partir de um minúsculo grão de poeira sobre um sapato. Mas fará tudo isso ao mesmo tempo em que será um homem de ação —“como o James Bond de 1891”, nas palavras de Joel Silver, produtor do filme.
Lionel Wigram, que concebeu a história, disse que reinventar Holmes como homem de ação faz todo o sentido do mundo. “Nunca concordei com a idéia daquele cavalheiro eduardiano empolado”, disse. “Não era essa a ideia que eu fazia de Sherlock.”
O diretor, Guy Ritchie, é conhecido por seus filmes estilizados e ágeis envolvendo criminosos, durões e o submundo londrino. Ele poderia parecer uma aposta arriscada para dirigir uma grande extravagância de Hollywood. Mas os produtores de “Sherlock Holmes” dizem que o estilo de Ritchie casa perfeitamente com o conceito que tinham em mente. “Achamos que ele tinha a capacidade e habilidade necessárias para fazer um filme grande e divertido, e quem realmente deu o toque que faltava foi Robert Downey Jr.”, disse Silver.
O Sherlock de Downey é mais sombrio que o de Rathbone ou outros atores que já fizeram o papel, como Christopher Plummer em “Assassinato por Decreto” (1979) ou Nicol Williamson em “Visões de Sherlock Holmes” (1976). O novo herói é mais rude, emocionalmente complexo, mais inclinado a se desarrumar, recoberto de contusões e manchas de sujeira e sangue.
O personagem e o ator compartilham algumas características. Como Sherlock com seu hábito de cheirar cocaína, Downey já sofreu muitas vicissitudes interiores, incluindo um longo período em que foi dependente de drogas. Como Sherlock, Downey, 43, tem uma mente tão ativa que ela parece adiantar-se a ela própria. Ele é sedento de estímulos constantes, em parte para sua própria alimentação intelectual e em parte, desconfia-se, para manter seus demônios sob controle. “Ele é o arquétipo do perfeccionista atormentado”, disse Downey, falando de seu personagem.
Susan Downey, uma das produtoras do filme e mulher do ator, disse que Sherlock é “um pouco mulherengo, um pouco briguento”, acrescentando: “Ele gosta de jogos de azar. Se você é fã de Sherlock Holmes e apaixonado pelas histórias originais, vai apreciá-lo”.
Os contos de Arthur Conan Doyle delinearam o relacionamento clássico entre Sherlock e Watson, “o amor pela linguagem e os embates cerebrais que ocorrem entre eles à medida que desenrolam o fio da meada deste mistério”, nas palavras de Jude Law.
Mas Conan Doyle parece ter concebido seus detetives também como personagens de ação, aludindo ao serviço militar prestado por Watson, a lutas de boxe e trocas de tiros, sem falar no uso por Sherlock de arte marcial. “Tantas das ideias de Conan Doyle aconteciam fora do palco em seus livros”, disse Downey. “Temos a tecnologia, o orçamento e os meios de encená-las.”
Outra pergunta, já que o filme se destina a um público familiar: há drogas? Não, disse Wigram, referindo-se a Sherlock.
“Ele não cheira cocaína em nosso filme.”


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