São Paulo, segunda-feira, 02 de novembro de 2009

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LENTE

Pais culpados, especialistas inconstantes

Se amamentar às 2h da manhã ou ter de lidar com adolescentes temperamentais não for o suficiente para manter os pais acordados à noite, os especialistas em paternidade podem ajudar a tirar seu sono. Pelo menos aqueles que acusam mães e pais de estarem criando uma geração de repetentes na escola, preguiçosos e viciados em drogas.
Mas a impressão de que vivemos uma era de culpa dos pais e de conselhos conflituosos não é novidade. Dos vitorianos a Spock e Brazelton, a sabedoria aceita sobre a criação de filhos muitas vezes foi questionada.
Isso pode ser de pouco alívio para os pais de hoje. Muitos -atiçados pela culpa e pelos conselhos de especialistas- se esforçam para estimular, elogiar ou pairar obsessivamente sobre seus jovens a todo momento. Lisa Belkin, do "New York Times", chama isso de "paternidade minha-mãe-não-me-amamentou-por-isso-nunca-vou-deixar-meu-filho-sair-de-perto-de-mim". Mas a última onda de especialistas afirma que essa hipervigilância também é prejudicial.
O livro "The Idle Parent: Why Less Means More When Raising Kids" (Pai ocioso: por que menos significa mais na criação de filhos), de Tom Hodgkinson, traz na capa uma ilustração que mostra mamãe e papai bebendo martínis enquanto o bebê prepara a próxima rodada. Outra escritora, Lenore Senazy, defende um retorno da paternidade "liberada", que não se baseia no medo.
Belkin resumiu a filosofia: "Preste atenção em suas próprias necessidades, apoie seus filhos, e todo o mundo ficará mais feliz e melhor adaptado".
Em "Nurtureshock: New Thinking About Children" (Choque de criação: novas ideias sobre filhos), os autores castigam os pais modernos porque, entre outras coisas, eles elogiam demais. Como escreveu o "Times Book Review", eles acreditam que o excesso de elogios vai "privar a criança de motivação e desencorajar a persistência".
E, no caso de famílias que já são relapsas, elas também podem compartilhar a culpa. Um novo estudo da Universidade Columbia, em Nova York, mostra que os adolescentes que fazem as refeições com seus pais menos de três vezes por semana têm maior probabilidade de usar drogas e álcool do que aqueles que comem com suas famílias cinco vezes por semana.
Como escreveu Jan Hoffman no "Times", "assim como amamentar e tocar fitas de Baby Mozart, o jantar em família tornou-se um item importante no boletim dos bons pais, pelo qual as mães julgam-se umas às outras e a si próprias".
Mas esqueça as fitas de Baby Mozart e Baby Einstein. Ante processos legais, a Walt Disney admitiu que seus DVDs e CDs (campeões de vendas) não aumentam a inteligência, como se anunciara anteriormente, e prometeu reembolsar todos os compradores.
Se todos esses conselhos confusos levam alguns pais estressados a gritar, também há estudos sobre isso. Um deles mostrou que, enquanto a maioria dos pais americanos se orgulha de não bater nos filhos, 88% admitiram soltar tapas verbais contra as crianças.
"Minha recomendação final é 'não grite'", disse ao "Times" o professor de estudos da família da Universidade de Connecticut, Ronald P. Rohner. "É um fator de risco para uma família."
Ficar calmo é mais fácil falar do que fazer, admitiu a reportagem. Mas especialistas sugerem que se descubram maneiras de evitar as situações que contribuem para fazer você gritar. Como, talvez, escutar os especialistas.

Envie comentários para nytweekly@nytimes.com



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