São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

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Luzes, câmera, empurre!

Por MALIA WOLLAN

Em seu oitavo mês de gravidez, Rebecca Sloan, bióloga de 35 anos que vive em Mountain View, Califórnia, já tinha lido livros sobre parto, tido aulas sobre o assunto, entrado em salas de bate-papo de mães e, ainda assim, não sabia muito bem o que a esperava. Então, como inúmeras futuras mães, Sloan escreveu "parto" na ferramenta de busca do YouTube.
Surgiram como resultado milhares de vídeos, mostrando de tudo, desde uma mulher dando à luz sob hipnose até cesarianas e partos na banheira.
"Eu simplesmente queria ver tudo", disse Sloan. E viu, graças a mulheres como Sarah Griffith, 32, da região de Atlanta, que quando teve seu filho Bastian convidou suas melhores amigas para participar. Uma delas operou a câmera, captando as contrações de Sarah, a cabeça do bebê coroando e seu primeiro choro. Depois, Sarah publicou a gravação de uma hora no YouTube em nove episódios, que desde então foram vistos mais de 3 milhões de vezes. "O parto é lindo, e eu não sou uma pessoa privativa", disse Sarah.
Diretores amadores como ela veem seus vídeos e filmes caseiros como uma maneira de desmistificar o parto, mostrando para outras mulheres -e seus maridos nervosos- imagens cruas que talvez elas não vissem até que suas contrações começassem. Inevitavelmente, a maioria dos vídeos de parto é um pouco chocante, desafiando não apenas as regras do YouTube como também as convenções sociais.
"A nudez geralmente é proibida no YouTube", disse Victoria Grand, diretora de políticas do site. "Mas fazemos exceções para vídeos que são educacionais, documentários ou científicos." Os funcionários do YouTube habitualmente veem os vídeos explícitos e, dependendo do conteúdo, podem decidir permiti-los, restringir o acesso a maiores de 18 anos ou retirá-los totalmente. A maioria dos vídeos de partos é recomendada só para adultos.
As mulheres entrarem no YouTube para assistir a partos é uma inclinação natural, disse Eugene Declercq, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston. "Cento e cinqüenta anos atrás, elas viam partos regularmente -viam suas irmãs ou vizinhas darem à luz", ele disse, acrescentando que foi só no final do século 19 que esse momento saiu das salas de visita e dos quartos para os hospitais. "Mas agora com o YouTube damos meia-volta, e as mulheres têm a oportunidade de ver os partos novamente."
Todos os dias, Sarah Griffith entra no YouTube para responder aos comentários e perguntas que os espectadores colocam sobre o vídeo do parto de Bastian. Ela diz que sua seção de comentários se divide assim: futuras mães empolgadas e apreensivas; alguns comentários obscenos que ela se recusa a publicar; e, finalmente, comentários dos que ela chama de "caras repetitivos". "Eles sempre dizem coisas como 'Puxa, fico feliz por não ser mulher'", ela disse.
A filmagem de Sarah é difícil de assistir. Bastian pesava quase 5 kg ao nascer, e ela não editou os closes, os gritos, gemidos e xingos. "Meu objetivo não é assustar ninguém", ela explicou. "Mas se uma mulher está grávida e não se preparou para o fato de que a dor faz parte, então pode começar a pensar nisso."
A maioria dos vídeos de partos no YouTube é de partos caseiros gravados em quartos, salas ou banheiras. Nos EUA, muitos hospitais e médicos proíbem as pacientes de gravar os partos para não se expor a reclamações, por isso no YouTube há poucos vídeos gravados em hospitais.
Os milhares de vídeos de partos on-line, as salas de bate-papo de mães e blogs sobre gravidez estão mudando a dinâmica entre as grávidas e os profissionais de saúde que as atendem.
"Quanto mais informação você tiver, mais fontes, melhores as perguntas que fará", disse Eileen Ehudin Beard, assessora do Colégio Americano de Enfermeiras e Parteiras, com 6.500 membros. Mas os vídeos de partos complicados ou difíceis podem ser negativos, disse Beard, especialmente se deixarem as mulheres mais temerosas de dar à luz.
Onze meses atrás, na Califórnia, Sloan registrou o nascimento de seu filho, Urban. Ela diz que se sente um pouco tímida para publicá-lo no YouTube e não tem certeza do que seu marido diria. Mas, afinal, acha que seu vídeo será mais um depoimento público sobre o sofrimento e a beleza do nascimento.
"Eu achei tão útil assistir àqueles vídeos e estou tão grata às famílias que os compartilharam que senti vontade de retribuir o favor", disse Sloan.


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