São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2011

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KIRSTEN DUNST

Mais que a namorada do herói

Por MARK HARRIS

Na primeira das duas aclamadas aparições de Kirsten Dunst no Festival de Cannes, em maio, uma plateia extasiada viu a atriz tentando manter a compostura enquanto o depressivo cineasta dinamarquês Lars von Trier torpedeava a estreia do seu novo filme, "Melancolia".
Ainda bem que o explosivo episódio não ofuscou o trabalho dela no filme, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no festival. Foi um doce triunfo para uma artista que ainda é mais conhecida como a namorada do Homem-Aranha.
Dunst comentou recentemente a entrevista coletiva em que Von Trier enveredou por comentários antissemitas que o levaram a ser expulso do festival.
"Fiquei muito chateada por ele ter continuado, tentando chegar a um lugar onde haveria uma risada. E eu também estava muito ciente de que estava numa sala cheia de jornalistas, e que eu não deveria dizer nada, embora em algum momento me lembre de ter cochichado para ele: 'Lars, cale a boca, isso é terrível'."
Ela continua sendo uma entusiasmada apoiadora de Von Trier (embora não das suas imprudentes declarações). Frases inadequadas anteriores do diretor não a demoveram de assumir o desafiador papel de Justine, a protagonista profundamente deprimida de "Melancolia". Dunst, 29, contou que ela própria já conheceu a depressão.
"Obviamente, quando você está deprimida, nem sempre tem clareza sobre por que está reagindo de certa maneira", afirmou .
"Mas para a personagem eu precisava pelo menos ter clareza sobre aquilo que não estava claro para mim. E eu sabia que Lars queria realmente chamar a atenção para como a depressão transparece nos olhos -que você pode sorrir ao mesmo tempo em que seus olhos estão mortos."
"Melancolia" garantiu a Dunst algumas das melhores críticas da sua carreira, mas há um problema que o filme não irá resolver. "É", disse ela sorrindo, "fico um pouco constrangida quando o manobrista me diz: 'Ei, você não vai fazer outro filme? Eu não vejo você desde 'Homem-Aranha''."
Embora ela trabalhe ininterruptamente desde sua estreia, em 1994, quando aos 12 anos roubou a cena de Tom Cruise e Brad Pitt em "Entrevista com o Vampiro", já faz mais de quatro anos que ela fez "Homem-Aranha 3".
Depois disso, ela assumiu papéis que contrariavam seu charme, como o da amante sociopata em "Entre Segredos e Mentiras" (que estreia em 25/11 no Brasil).
"Há nela algo de profundo, que não se espera de uma loira bonitinha como ela", disse Sofia Coppola, que a dirigiu em "As Virgens Suicidas" e "Maria Antonieta". "É essa qualidade misteriosa que faz você querer ver alguém em um filme."
Dunst talvez seja a única atriz que expresse em um só fôlego o desejo de trabalhar com o cineasta austríaco Michael Haneke, autor de filmes amargamente misantropos, e em seguida conte como adoraria emprestar sua voz a um desenho da Pixar.
"Não quero ser a 'garota-bilheteria', mas também não quero ser 'aquela menina 'indie'", disse ela, explicando seus interesses.
Entre seus próximos trabalhos estão uma participação na adaptação do romance "Pé na Estrada", de Jack Kerouac, por Walter Salles, e um papel central no ambicioso "Upside Down", que mistura romance e ficção científica.
Recentemente, ela começou a trabalhar numa adaptação cinematográfica da peça cômica "Bachelorette", de Leslye Headland, interpretando "uma espécie de puta, o que é divertido, porque nunca cheguei a fazer isso".
E, em janeiro, ela embarca em um filme independente, do qual só revela uma coisa: "Meu pai não vai poder ver esse filme".
O que leva à pergunta: ele vai assistir "Melancolia", na qual ela aparece nuak, em uma cena?
"Meu pai é europeu", disse Dunst. "Então ele é do tipo: 'Você tem um corpo bonito, eu ajudei a fazer você, se é pela arte, não é esquisito'."
"Esquisito é para mim", acrescentou ela, rindo.
"Não quero ser a 'garota-bilheteria', mas também não quero ser 'aquela menina 'indie'"


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