São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2011

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DENIS MAMADOU CUSPERT

A nova mensagem do ex-rapper: jihad

POR SOUAD MEKHENNET

BERLIM - Denis Mamadou Cuspert já foi um rapper popular na Alemanha, conhecido como Deso Dogg. Hoje, com o nome de Abou Maleeq, ele é um dos mais conhecidos cantores de "nasheed" (música islâmica) em alemão.
Autoridades de combate ao terrorismo veem nele uma figura influente, que incita à violência e à agitação por meio de vídeos e discursos inflamados, em que louva terroristas e ataca o Ocidente.
"Depois de estabelecer um vínculo pela música, ele introduziu a ideologia radical a um público já receptivo a ele", disse Raphael Perl, chefe de contraterrorismo da OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação) na Europa.
As autoridades alemãs dizem que pessoas como Cuspert inspiraram o assassinato de dois militares da Força Aérea americana em março, no aeroporto de Frankfurt. Arid Uka, 21, que começou a ser julgado em setembro, disse ter decidido realizar aquele ataque depois de ver um vídeo que supostamente mostrava uma muçulmana sendo estuprada por homens que vestiam fardas americanas.
Autoridades americanas dizem que o vídeo - que Cuspert admitiu ter divulgado na sua página do Facebook, e que Uka copiou- foi encenado por militantes. Cuspert, 35, profere seus discursos inflamados em toda a Alemanha, e os jovens são atraídos por sua história, como o envolvimento com as gangues de rua de Berlim, e a noção de que ele finalmente encontrou o "caminho certo".
"Meu dever é usar minha voz para dizer a verdade às pessoas, e a verdade é que a jihad é um dever", disse Cuspert.
As autoridades dizem que os jovens que têm clicado em seus vídeos no Facebook não percebem que estão ouvindo algo inspirado por uma teologia radical jihadista, baseada no salafismo, um ramo fundamentalista do islamismo.
Em seus discursos, Cuspert tem manifestado indignação com os bombardeios teleguiados dos EUA no Paquistão, no Iêmen e na Somália, e diz que seu maior desejo no momento é a morte do presidente Barack Obama.
As autoridades dizem não ter elementos suficientes para prendê-lo por seus discursos, mas buscam colocá-lo atrás das grades por causa de delitos supostamente cometidos durante sua vida pregressa como rapper.
Em 18 de agosto, Cuspert foi julgado pela acusação de porte ilegal de armas. Promotores dizem que ele empunhava um revólver em um vídeo, e que a polícia encontrou munições em seu apartamento. Cuspert recebeu multa de ¤ 1.800, mas não foi preso.
Cuspert nasceu e foi criado em Berlim pela mãe, alemã. Seu pai, ganense, foi embora quando ele era bebê. Por causa de conflitos domésticos com seu padrasto, ex-soldado americano, ele foi enviado durante cinco anos para uma instituição para a assistência de menores problemáticos.
"Cresci com o racismo", afirmou. "Apesar da minha mãe ser alemã, alguns professores naquela época me chamavam de 'preto', e maltratavam todas as crianças que eram muçulmanas."
Em 1995, Cuspert encontrou no rap uma válvula de escape para a sua raiva, e sua carreira musical decolou, em turnês com rappers como DMX. "Minhas músicas eram sobre a cadeia, o racismo, a guerra", explicou.
Após sobreviver a um acidente de carro, ele começou a questionar seu estilo de vida e a buscar respostas no islamismo. Em 2010, largou a carreira de rapper e passou a se dedicar à luta contra as políticas dos EUA e do Ocidente.
A mensagem na caixa postal do seu celular não esconde qual é o seu objetivo maior na vida. "O martírio é o que há de mais belo", diz . "Alá é o maior."
"Meu dever é usar minha voz para dizer a verdade, e a verdade é que a jihad é um dever"

Colaborou Eric Schmitt, reportagem de Washington


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