São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2011

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Arte & Estilo

Um novo espaço veio a calhar para o islã

Por RANDY KENNEDY

Um tesouro da arte islâmica vem povoando salas recém-construídas no Museu Metropolitano de Arte (Met) de Nova York nos últimos três anos. Mais de mil artefatos do acervo do museu vêm pouco a pouco assumindo seus lugares entre fontes e arcos que emolduram vistas de 13 séculos de história da arte.
Chamado de Galerias para a Arte das Terras Árabes, Turquia, Irã, Ásia Central e Ásia Meridional Posterior, esse espaço oculto de 1.765 m2 será aberto em 1° de novembro. A reinstalação e ampliação da coleção -uma das mais importantes fora do Oriente Médio- se dá em um momento em que o mundo islâmico centraliza atenções no palco mundial.
Quando começou a repensar as galerias, quase uma década atrás, o museu não imaginou que o faria contra um pano de fundo tão culturalmente carregado: a presença militar americana no Afeganistão e Iraque, tensões com o Irã e a explosão da Primavera Árabe.
O Met buscou contribuições de mais de 20 países cujas regiões estão representadas por artefatos. Procurou a assessoria de mais de 40 estudiosos de arte islâmica de várias partes do mundo.
"Trinta anos atrás havia apenas um grupo pequeno de especialistas interessados neste material", contou Sheila Canby, recrutada do Museu Britânico para liderar o departamento islâmico do Met. "Hoje há muito mais atenção e interesse."
O museu também teve que decidir se exibiria ou não obras que retratam o profeta Maomé (vai fazê-lo, embora trabalhos raros em papel não possam ser exibidos continuamente por serem demasiado sensíveis à luz).
O fechamento de uma das galerias islâmicas originais, em 2003, para dar espaço à ampliação das galerias gregas e romanas, foi quase um deslocamento simbólico da arte islâmica na esteira do 11 de Setembro. Mas muitos especialistas achavam que as galerias, montadas em 1975, já deixavam antever sua idade.
Com a oportunidade rara de refazer tudo proporcionada pela renovação, as ambições para o projeto cresceram, assim como seu tempo e custo, que hoje soma US$50 milhões.
A despeito da recessão econômica, que obrigou o Met a reduzir custos, a renovação vem se notabilizando por sua seriedade.
O museu importou artesãos altamente respeitados de Fez, no Marrocos, para construir um pátio em estilo magrebino-andaluz, e recrutou no Cairo artesãos que trabalham com madeira.
Conservadores têxteis trabalharam mais de três anos para restaurar "O Tapete do Imperador", um renomado tapete iraniano do século 16 que se acredita que tenha pertencido a Pedro, o Grande, e depois a Leopoldo 1°.
As 15 salas das galerias vão mostrar que o termo "arte islâmica" significa pouco porque depende de como e onde é aplicado: a arte criada em regiões onde o islã era a cultura religiosa dominante, mas não a única; arte criada por muçulmanos para fins seculares; arte feita por muçulmanos que é quase indistinguível de seus "primos" chineses ou europeus.
As galerias vão proporcionar destaque mais central a uma das maiores atrações da coleção: um nicho de orações, brilhantemente colorido, da cidade iraniana de Isfahan. E a nova configuração também vai enfatizar como as marcas visuais da arte islâmica -a abstração geométrica e a caligrafia- coexistem por séculos.
Com sua inauguração menos de dois meses após o décimo aniversário do 11 de Setembro, as galerias oferecem a possibilidade de modificar visões sobre as afinidades profundas entre a arte ocidental e a islâmica.
Mais de metade da coleção vem do Irã, e esses objetos agora funcionarão como contraponto potente às pré-concepções a respeito de um país que passou a simbolizar o antagonismo islâmico.
"Sempre existe uma tendência a vilificar um povo", disse Sheila Canby. "Mas estas coisas são humanizadoras. Elas mostram a beleza, as realizações e até mesmo o senso de humor de uma grande cultura. Se as pessoas aplicam isso ou não à sua visão de assuntos públicos é algo particular. Ao menos elas poderão usar seus olhos e tirar suas próprias conclusões."


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