São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2011

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Astros criam melodias para letras do rei country

Bob Dylan resgata obras perdidas de Hank Williams

Por ALAN LIGHT

Não é de hoje que Bob Dylan saúda Hank Williams como alguém que o influenciou e inspirou. Em sua autobiografia de 2004, "Chronicles Volume One", Dylan relatou como descobriu a música desse gigante do country, na década de 1950. "Percebi que as canções gravadas de Hank continham as regras arquetípicas da criação de canções poéticas", escreveu.
Dylan acrescentou que quando soube da morte de Hank Williams, no Ano Novo de 1953, aos 29 anos, a notícia "caiu pesada sobre meus ombros".
Com um novo projeto intitulado "The Lost Notebooks of Hank Williams", Dylan está fazendo sua parte para manter no centro das atenções o trabalho de um dos maiores letristas dos Estados Unidos, autor de clássicos como "I'm So Lonesome I Could Cry", "Cold Cold Heart" e "Hey Good Lookin'?". O álbum reúne as letras de uma dúzia de canções de Hank Williams que ele nunca chegou a gravar, musicadas e gravadas por uma lista de astros do rock e country, entre os quais Jack White, Norah Jones, Merle Haggard e Sheryl Crow.
"Ainda há muita magia nestas canções", falou Alan Jackson, que abre o álbum com "You've Been Lonesome, Too". Norah Jones, que canta o melancólico "How Many Times Have You Broken My Heart", em clima de blues, disse que ficou intimidada com a ideia do projeto, mas que "as pessoas envolvidas estavam fazendo tudo com respeito, amor e criatividade, e eu confio nisso".
As sementes do álbum foram plantadas em 2002, quando o álbum de homenagem a Hank Williams "Timeless" (também com Bob Dylan e Sheryl Crow, além de vários outros astros) recebeu o Grammy de melhor álbum country do ano. Uma das produtoras executivas do disco, Mary Martin, foi procurada por Peggy Lamb da Acuff-Rose, a empresa que edita as canções de Hank Williams. Lamb contou a Martin sobre a caixa de cartolina, com quatro cadernos e folhas de papel avulsas repletas de letras não gravadas de Williams (66 canções), que estava guardada em um cofre em seu escritório.
A ideia inicial de Lamb era convidar um artista para gravar um álbum completo, baseado nos manuscritos. Mary Martin procurou Dylan, mandando 27 das letras a ele; ele estudou a ideia por "um ano e meio", antes de responder que "a tarefa é grandiosa demais". Dylan escolheu uma canção para si, "The Love That Faded", e ele e Martin começaram a propor outros potenciais colaboradores.
Em vista dos muitos estilos em que Williams escreveu, as seleções feitas por cada artista podem ser reveladoras. Embora houvesse várias canções gospel entre as letras, apenas Merle Haggard escolheu um tema religioso, "The Sermon on the Mount", que encerra o álbum. O humor matreiro de "You Know That I Know" parece terreno familiar para Jack White. Holly Williams, neta de Hank Williams, acrescentou dois versos próprios ao fragmento de canção com nome de "Blue Is My Heart".
Algumas pessoas rejeitam o conceito. Há um grupo no Facebook chamado "Acabem com a Profanação das Canções Inacabadas de Hank Williams". Chet Flippo, diretor da Country Music Television, indagou: "Se você fosse um pintor e lhe pedissem para fazer uma tela baseada em um esboço de Picasso, você faria?"
Mas a maioria dos músicos recorda a emoção que sentiu quando a tarefa lhe foi confiada. "Esta é uma das coisas mais cool do mundo", disse Alan Jackson. "Receber um crédito de autor de uma canção em conjunto com Hank Williams -isso, para mim, significa mais que ganhar um Grammy."


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