São Paulo, segunda-feira, 04 de janeiro de 2010

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Rússia tenta mediar o diálogo no Oriente Médio

Levar árabes e israelenses a Moscou é um objetivo difícil

Por YULIA TARANOVA
MOSCOU - Há quatro anos e meio, Vladimir Putin teve a ideia de ajudar a restabelecer a Rússia como um fator importante no Oriente Médio. O país patrocinaria uma conferência de paz em Moscou, convidaria as principais partes no conflito e as conduziria a um acordo.
Mas, apesar dos constantes apelos de autoridades graduadas russas, a proposta de Putin, que desde então deixou de ser um presidente poderoso para ser um primeiro-ministro incomumente poderoso, nunca foi posta em ação. A incapacidade da Rússia para realizar a conferência salientou suas dificuldades para recuperar a influência que a União Soviética já exerceu no cenário mundial.
Recentemente, o chanceler russo, Sergey Lavrov, em visita ao Egito, disse que o Kremlin continua decidido a organizar a conferência de Moscou, mas reconheceu que ela não está mais próxima de sua realização.
Ele sugeriu que, com o atual clima de desconfiança entre israelenses e palestinos, talvez não seja o momento adequado para que se sentem em uma mesa de negociação. O último esforço russo para a conferência de Moscou começou em junho, quando o presidente Dmitri Medvedev declarou que ela seria realizada no final do ano. Antes disso, durante a ofensiva militar israelense em Gaza, em janeiro, a ONU aprovou uma resolução de cessar-fogo que incluía o apoio ao encontro de Moscou.
As autoridades russas regularmente levantam a questão em reuniões diplomáticas e, no ano passado, chegaram a publicar uma possível agenda da conferência.
Sua recusa a desistir da ideia ilustra o simbolismo que ela representa para a diplomacia russa, disseram analistas. "Ao propor ajudar na solução do conflito, a Rússia pode obter principalmente dividendos para sua imagem", disse Irina D. Zvyagelskaya, do Instituto de Estudos Orientais em Moscou.
Moscou vem modificando seu papel no Oriente Médio. Na época soviética, apoiava firmemente o lado árabe, mas nos últimos anos tentou se mostrar mais como um mediador imparcial. Embora não tenha abandonado seus aliados árabes, reforçou os laços com Israel, em parte por causa da influência no país de imigrantes russos da antiga União Soviética, que formam 15% a 20% da população.
O ministro das Relações Exteriores israelense, Avigdor Liberman, um imigrante da antiga república soviética da Moldávia, tem conversas frequentes com diplomatas russos e visitou Moscou neste ano. "Isso é o que nos une a Israel, como a nenhum outro país do mundo", disse Putin a Liberman recentemente, referindo-se à população imigrante em Israel.
O comércio cresceu, e Israel tornou-se um destino turístico popular para os russos. No ano passado, os dois países suspenderam a exigência de vistos para turistas.
Ao mesmo tempo, a Rússia é o único membro do chamado Quarteto do Oriente Médio -que inclui Estados Unidos, União Europeia e ONU- que mantém relações com o Hamas. Os EUA consideram o Hamas, que controla Gaza, um grupo terrorista, mas autoridades russas disseram que é importante ter um canal diplomático com o grupo.
Enquanto Israel publicamente censura a Rússia por conversar com o Hamas, diplomatas israelenses manifestaram a esperança de que o Kremlin possa moderar o diálogo. Em entrevistas, diplomatas israelenses e palestinos em Moscou ficaram divididos em suas posições sobre a conferência proposta.
Ao promover a conferência sobre o Oriente Médio, o Kremlin parece estar se envolvendo em uma competição diplomática com os EUA. Ele está consciente de que quando o governo de George W. Bush decidiu organizar sua conferência sobre o Oriente Médio, em 2007, em Annapolis (Maryland), reuniu as partes com relativa rapidez.
E, assim, o fracasso da Rússia em fazer o mesmo, ano após ano, parece ter causado irritação, mesmo que os EUA não tenham conseguido trazer a paz.
"A Rússia quer confirmar sua posição independente e mostrar que não só os americanos, com sua conferência em Annapolis, ou os franceses, que reuniram doadores em Paris, mas também os russos são igualmente importantes no processo de paz no Oriente Médio", disse Yevgeny Satanovsky, presidente do Instituto do Oriente Médio em Moscou.


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