São Paulo, segunda-feira, 04 de janeiro de 2010

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Escavação em Israel mostra uso moderno do espaço de moradia

Por JOHN NOBLE WILFORD
Recentes escavações em Israel parecem mostrar que nossos ancestrais da Idade da Pedra começaram surpreendentemente cedo a organizar os espaços habitacionais ao ar livre em núcleos separados para atividades diferentes. Uma área era primariamente usada para o preparo e consumo de alimentos, e outra, a mais de oito metros de distância, para a produção de ferramentas de pedra.
Os arqueólogos que divulgaram a descoberta na revista "Science" disseram que a existência de áreas distintas para atividades diferentes indica "uma conceitualização formalizada de um espaço para viver, o que muitas vezes se considera que reflete uma cognição sofisticada".
E foi surpreendente, segundo eles, descobrir sinais disso em um acampamento ocupado já há 790 mil anos.
Até agora, tais padrões de habitação e trabalho eram associados apenas com o Homo sapiens moderno, e como tal seria um comportamento surgido nos últimos 200 mil anos.
No artigo, Nira Alperson-Afil e seus colegas notaram que "o uso moderno do espaço exige organização social e comunicação entre membros do grupo e, supostamente, envolve parentesco, gênero, status e habilidade".
Alperson-Afil, arqueóloga da Universidade Hebraica de Jerusalém, e pesquisadores de Alemanha, Israel e Estados Unidos analisaram os restos de Gesher Benot Ya'aqov, no norte do vale do Jordão, onde ancestrais dos humanos viviam à beira de um antigo lago. Camadas superpostas de artefatos indicam que o sítio foi ocupado por mais de 100 mil anos.
As escavações dirigidas por Naama Goren-Inbar, também da Universidade Hebraica, já haviam exposto sinais, noticiados há um ano, de que os ocupantes do sítio eram capazes de fazer e controlar o fogo. Se for correto, será o primeiro exemplo definitivo de domínio do fogo.
"Trata-se de um sítio extraordinário", disse Alison Brooks, professora de antropologia da Universidade George Washington (EUA), que não participou da pesquisa. "Há pouquíssimos sítios assim daquela época na África, no Oriente Médio ou em qualquer outro lugar."
Brooks diz que a evidência de que havia lareiras "implica algum tipo de organização espacial no local", mas aponta que os arqueólogos precisam estudar as conclusões antes de comentarem sobre as interpretações divulgadas.
A identidade dos ocupantes de Gesher Benot Ya'aqov é desconhecida; nenhum resquício de esqueleto foi encontrado ali.
A equipe de Alperson-Afil relatou que os ocupantes "produziam com habilidade ferramentas de pedra, abatiam e exploravam sistematicamente animais, coletavam plantas alimentares e controlavam o fogo".
Pedras, madeiras e outros materiais orgânicos queimados revelam a presença de fogo em lareiras específicas.
Dois dos coautores, Goren-Inbar e Gonen Sharon, explicaram por e-mail que, se isso fosse resultado de incêndios naturais, "esperaríamos que a sua distribuição fosse similar à distribuição geral dos artefatos de pedra e de outros materiais, e não aglomerada como está".
"O fato de que tenhamos reconhecido zonas de atividade e definido algumas das atividades que ocorriam ali já é um feito por si só", afirmou a dupla.


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