Por DAVE ITZKOFF
Como documentarista e experimento de laboratório individual, Morgan Spurlock registrou a si próprio em todo tipo de teste de resistência. Ele ficou famoso por subsistir com uma dieta de refeições do McDonald's (em seu filme revolucionário "Super Size Me"); viajar para a região de Tora Bora, no Afeganistão ("Where in the World Is Osama bin Laden?"); e viver durante um mês como prisioneiro (em sua série na TV a cabo "30 Days").
Finalmente ele encontrou um desafio que não pôde concluir: assistir a mais de 440 episódios de "Os Simpsons" em sequência.
"Era minha fantasia no início", disse Spurlock. Com um ar de resignação, ele acrescentou: "Consegui durante quase dois dias. Literalmente você sente que sua cabeça vai explodir".
Uma crônica atemporal dessa odisseia homérica pode ser vislumbrada em sua última obra, "The Simpsons 20th Anniversary Special - In 3-D! On Ice!" (Especial de 20? Aniversário dos Simpsons - Em 3-D! No Gelo!), um documentário que comemora a longeva comédia de animação e que a rede de TV Fox vai exibir nos EUA em 10 de janeiro.
Spurlock encontrou fãs obcecados. "Você fala com essas pessoas e é quase como se elas estivessem falando sobre um membro da família", disse Spurlock. "Como o quinto Beatle, elas são o sexto Simpson."
O filme de Spurlock, que é ao mesmo tempo uma renarração da história dos Simpson e um tributo a sua extensa e imprevisível influência cultural, foi encomendada pelos produtores do programa.
O criador dos Simpsons, Matt Groening, e os produtores-executivos James L. Brooks e Al Jean recorreram a Spurlock sem muito medo de que voltasse contra eles seu estilo irônico demolidor.
"Ninguém é perfeito", disse Jean. "Mas não acho que tenhamos segredos terríveis a esconder. Pensamos: 'Não queremos fazer uma coisa pomposa ou pretensiosa'."
Spurlock e sua equipe vasculharam o mundo atrás de fãs dos Simpsons. Em Wakefield, Reino Unido, Spurlock falou com Alex Hardy, 12, que salvou a vida de seu jovem amigo Aiden Bateman quando este começou a sufocar com um pedaço de comida. Alex lembrou-se de que vira a demonstração da manobra de Heimlich em um episódio dos Simpsons. Em duas cidades escocesas, Aberdeen e Glasgow, o diretor encontrou moradores que defendem efusivamente que sua cidade natal é o verdadeiro berço do Groundskeeper Willie (o zelador Willie) do programa, com suas falas engraçadas.
Mas o documentário de Spurlock também lembra os espectadores de que o programa foi impopular nas escolas (muitas das quais proibiram camisetas de Bart Simpson); denunciado pelo ex-presidente George W. Bush; e tirado do ar na Venezuela, onde foi considerado inadequado para crianças e substituído por "SOS Malibu".
Ele também dá espaço a vários brasileiros que ficaram ofendidos por um famoso episódio de 2002 que mostrou seu país como superlotado de macacos e ratos.
Jean disse que ele e seus colegas dos Simpsons apreciaram essas críticas. "Estávamos dispostos a assumir esse risco em troca de algo que fosse mais agudo e mais interessante, e acho que conseguimos", disse Jean. "Você pode ir a quase qualquer lugar e, se disser que trabalha para os Simpsons, as pessoas vão querer falar com você. Acho que Spurlock realmente captou isso."


Texto Anterior: Descoberta aos 89, na crista da onda aos 94
Próximo Texto: Residências de NY viram galerias de arte
Índice