São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2011

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Uma vantagem para o artista que vê o mundo 'achatado'

Por SANDRA BLAKESLEE

Quando se aprende a desenhar ou pintar, é útil ter uma visão da composição, cor e originalidade.
E o que dizer da percepção de profundidade? Talvez não seja tão útil assim, sugerem neurocientistas. Em lugar disso, a chamada cegueira estéreo -condição na qual os olhos estão fora de alinhamento, de modo que o cérebro não consegue fundir as imagens captadas por cada olho- pode representar uma vantagem.
Enxergar através de um olho de cada vez "achata a cena", disse Margaret S. Livingstone, da Escola Médica de Harvard, especialista em visão e no cérebro que fez um estudo sobre a visão estéreo ou estereopsia.
As pessoas que têm cegueira estéreo parecem possuir uma vantagem natural quando se trata de traduzir o mundo tridimensional para uma tela plana bidimensional, disse Livingstone. Para simular um mundo tridimensional, elas utilizam indicadores de profundidade monoculares, como movimento, tamanho relativo, sombras e figuras sobrepostas.
No estudo, publicado em fevereiro no periódico "Psychological Science", pesquisadores mediram a habilidade estereoscópica de 403 estudantes de arte e 190 estudantes de outras disciplinas.
Todos os estudantes colocaram óculos usados para assistir a filmes em 3D e olharam fixamente para um pano de fundo de pontos coloridos. Aqueles que possuíam visão estereoscópica conseguiram focar para enxergar um quadrado flutuando na parte de frente ou de fundo da tela do computador. Os que apresentavam cegueira estereoscópica não enxergavam o quadrado. Os artistas, como grupo, apresentaram desempenho pior nos controles.
Os pesquisadores obtiveram retratos de 121 artistas famosos e 127 parlamentares americanos.
De acordo com Livingstone, os olhos dos artistas famosos apresentavam falhas de alinhamento com frequência maior. A ideia de que alguns artistas plásticos possuam um defeito visual parece ser contraintuitiva, afirmou o coautor do estudo, Bevil R. Conway, artista que ensina neurociência no Wellesley College, no Estado do Massachusetts, e também sofre de cegueira estereoscópica.
"Mas sempre tive facilidade em desenhar", disse Conway, "não por possuir destreza, mas porque, quando olhava para uma cena, os tamanhos relativos e as relações espaciais entre os objetos me pareciam óbvios e se relacionavam com sua representação sobre uma folha de papel plana."
Susan R. Barry é professora de neurociência no Mount Holyoke College, no Massachusetts, e autora de "Fixing My Gaze", um relato sobre como ela reconquistou sua visão estéreo aos 50 anos, usando terapia de visão. "Recebi e-mails de pessoas com cegueira estéreo e parece que um número desproporcional delas é formado por artistas", ela contou.
Segundo Barry, 10% das pessoas desenvolvem alguma cegueira estéreo na primeira infância. Algumas têm estereopsia fraca que vai e vem de acordo com sua fadiga; outras são totalmente destituídas dela.


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