São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2011

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VIVER - MOMENTO DE FUGA

Revelações no ar em Chicago

A solidez do edifício se opõe à transparência

EDWARD ROTHSTEIN
ENSAIO

CHICAGO - A visão quando você olha para baixo pelo piso de vidro da Willis Tower em direção ao South Wacker Drive é exatamente o que esperaria se estivesse equilibrado sobre 6.960 caixas da pizza de prato fundo desta cidade.
De pé no Ledge [Prateleira], como é chamado, no Skydeck do 103° andar da torre, olhe para os telhados e os helicópteros de trânsito lá embaixo. Apesar dos rebites tranquilizadores nos painéis de vidro de 680 quilos e da segurança da capacidade de suportar 4.435 quilos de cada uma das caixas de vidro com 1,3 metro de profundidade que se projetam da borda do edifício mais alto do hemisfério ocidental, você ainda se sente zonzo.
As extensões de vidro do arranha-céu (antes chamado de Sears Tower e rebatizado com o nome de um corretor de seguros londrino), acrescentadas em 2009, foram desenhadas pelos arquitetos originais Skidmore, Owings & Merrill. Mas qualquer conforto que elas possam oferecer é minado pela eliminação de quase todo o apoio visível; você caminha dentro das caixas a 412 m acima da rua, cercado pelo espaço.
É uma sensação estranha. O uso do aço na estrutura tornou possível o arranha-céu de Chicago na virada do século 20. Estruturas posteriores envoltas em vidro parecem dissolver qualquer sinal de apoio. Mas também existe uma excitação que você não tem quando visita um parente distante do Ledge: o Skywalk no Grande Cânion.
O Skywalk [caminhada no céu], no Arizona, prometia ser mais espetacular: uma plataforma de observação de piso transparente que se projeta 21 m além da borda do cânion, a 1.219 m acima do rio Colorado. Mas o gasto, a badalação e o ambiente não conseguem se equiparar ao espetáculo da natureza.
No Ledge, que recebe 1,5 milhão de visitantes por ano, sente-se algo que você não consegue no Skydeck. Quando você olha para fora através de uma janela, a cidade se torna um mapa, permitindo perceber sua imensidão; é assim que os pilotos devem se sentir quando conduzem seus aviões para as pistas dos aeroportos. As vistas das janelas ajudam a dar sentido ao mundo, e não a rompê-lo.
Mas retire o piso sólido e fique de pé sobre o vidro -aí uma outra coisa acontece. Você se torna vulnerável. Você olha para a cidade e sua expansão, mas não consegue ser complacente. Você acaba sentindo, juntamente com a incredulidade, uma inquietação absolutamente humana. Você reconhece como os avanços tecnológicos são incomuns e vulneráveis. A cidade poderia tentar transcender o humano, mas também o reflete prontamente. Passe um minuto no Ledge e sentirá isso nos ossos.
Todo o tecido urbano parece ao mesmo tempo maravilhosamente permanente e permeado de vulnerabilidades, imponente, mas transitório. Quer sentir ao mesmo tempo o poder e a fragilidade da civilização humana? Caminhe no Ledge.


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