São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2011

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Cingapura também quer ser lembrada por sua criatividade

Uma cidade-Estado controlada tenta ser menos 'genérica'

Por NAOMI LINDT

Chamada de "deserto cultural", Cingapura é um bastião da eficiência sanitária, livre de chicletes, admirada por sua modernidade e organização no caótico Sudeste Asiático. É um lugar onde a criatividade não foi cultivada.
O arquiteto holandês Rem Koolhaas usou Cingapura de forma infame para ilustrar seu termo de "cidade genérica" em entrevista de 1996, e até o ex-premiê Lee Kuan Yew disse que era improvável que surgisse uma cultura local em algum momento próximo.
Fiel a sua natureza centralizada e prática, o governo acredita que pode mudar essa imagem. Com o objetivo declarado de transformar Cingapura em uma "cidade global das artes" até 2015, ele investiu mais de US$ 1 bilhão nos últimos 20 anos em novos museus e em novas instituições culturais como o centro de artes cênicas Esplanade, de US$ 487 milhões, e o SAM através 8Q, um espaço dedicado a obras de vanguarda no Museu de Arte de Cingapura.
Ele atraiu arquitetos de destaque como Moshe Safdie e Norman Foster para construir hotéis reluzentes como o Marina Bay Sands e o Capella Singapore e recrutou o ícone da arte Lorenzo Rudolf para organizar o Art Stage Singapore, evento que estreou em janeiro.
Cerca de 32 mil visitantes apareceram para ver as obras de artistas como Anish Kapoor, David LaChapelle e Takashi Murakami.
Enquanto isso, muitos do cenário cultural estão trabalhando em um nível de base para criar uma autêntica identidade cultural para a cidade-Estado.
"Muitos cingapurianos estão jogando com novas maneiras de se ver, e eu quis criar uma plataforma para isso", disse Torrance Goh, um arquiteto que fundou a reunião bianual de artistas Rojak. "O sistema não permite espontaneidade. Por esse motivo, estamos contornando a rede de mecenas e fazendo nós mesmos em espaços públicos desprezados."
As locações para o Rojak, que já tem seis anos, incluíram os escritórios de uma agência de publicidade e uma rua discreta no bairro de Little India. Uma exposição coletiva organizada pela galeria de arte Valentine Willie, intitulada "Além de LKY", examinou a vida depois de Lee. A exposição apresentou obras de 20 artistas locais, explorando polêmicas como pena de morte, imigração e identidade nacional, assuntos que podem gerar multas e processos.
"Eu estava esperando que a Autoridade de Desenvolvimento de Mídia aparecesse", disse a dona da galeria, Valentine Willie, referindo-se ao órgão do governo que supervisiona o conteúdo público. "Mas não veio ninguém."
A galeria ancora a mais nova área de artes de Cingapura, que cresceu para incluir cerca de meia dúzia de galerias nos últimos anos. Abrigada em um armazém agitado a apenas dez minutos de táxi do bairro comercial central, o espaço de aparência simples certamente parece perfeito para um polo de artes de vanguarda.
Arte visual não é o único reino cultural que está se expandindo. Jovens cingapurianos estão lutando por conta própria para fundar butiques e marcas de moda independentes.
"Em Cingapura, a criatividade não é mais desprezada", disse Kenny Leck, que abandonou a carreira de contador e abriu a BooksActually em 2005 com sua sócia Karen Wai. Cheia de máquinas de escrever, câmeras, acordeões e brinquedos vintage, a loja é o tipo de lugar que não consegue manter revistas como "Monocle" e "Granta" nas prateleiras. Com o objetivo de promover um clima de salão cultural, a BooksActually convida artistas emergentes, autores e dramaturgos para realizar eventos e leituras na loja.
A história da BooksActually inspirou Mike Foo e Shannon Ong a abrir a Woods in the Books, uma livraria para crianças cheia de livros pop-up e de quadrinhos.
Com suas lojas de batik e mulheres usando lenços na cabeça, o bairro malaio de Kampong Glam pareceria um local improvável para a alta costura -mas os aluguéis razoáveis e a ótima localização transformaram o enclave vibrante em um centro para futuros novos estilistas. O Blackmarket, em uma loja de um século na Jalan Pisang, é uma primeira parada essencial, tendo no estoque mais de 30 etiquetas, desde novatos promissores até astros.
Um punhado de jovens etiquetas locais está se tornando internacional, como a Hansel, de Jo Soh, que causou um pequeno frisson na mídia quando Katy Perry usou um de seus vestidos de bolinhas depois de visitar Cingapura. Soh abriu recentemente sua própria butique na Orchard Road. "As pessoas estão comprando criações locais e percebendo que o que torna Cingapura especial é o que os cingapurianos fazem e criam", disse Soh, 35.


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