São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2011

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O desafio de concluir um tomo sobre o Irã

Por PATRICIA COHEN

Quando Ehsan Yarshater tinha 53 anos, começou a escrever uma enciclopédia definitiva sobre a história e cultura do Irã. Aos 75, começou a procurar um sucessor. Não encontrou ninguém, e levou o trabalho adiante, ele mesmo. Yarshater está com 91 anos de idade e já chegou à letra K.
"Minha missão é completar a enciclopédia", ele explicou recentemente, falando no Centro de Estudos Iranianos da Universidade Columbia, em Nova York. Ele sabe que não vai conseguir concluir a obra pessoalmente, mesmo porque a tarefa não para de crescer, à medida que vão sendo feitos mais avanços. Há novos tópicos a serem incluídos, verbetes a serem atualizados. Para tentar assegurar que seu trabalho seja levado adiante, Yarshater criou uma fundação, com fundos de US$12 milhões, e finalmente escolheu três acadêmicos para tomar seu lugar.
Com dinheiro americano da "National Endowment for the Humanities" (agência federal dos EUA para o apoio a pesquisas em Ciências Humanas), Yarshater está criando o relato mais abrangente sobre milênios de história e cultura iranianas no Oriente Médio e na Ásia. "Não existe nada comparável", em termos de qualidade ou abrangência, disse Ali Banuazizi, professor do Boston College.
Diferentemente das enciclopédias convencionais, que fazem um resumo dos conhecimentos já existentes, a obra de Yarshater, "Encyclopedia Iranica", está produzindo estudos originais.
"Nosso objetivo é encontrar a melhor pessoa em todo o mundo para tratar de cada tópico", disse Yarshater. Ele está há dois anos à procura um especialista para escrever sobre Sirjan e Rafsanjan, cidades do sul do Irã.
Ele não retorna ao Irã há 32 anos, desde que o aiatolá Khomeini depôs o xá do Irã e instituiu uma república islâmica, em 1979. "A imparcialidade da enciclopédia não agrada o atual governo persa", explicou.
Os 1.480 colaboradores de todas as partes do mundo que escreveram 6.500 verbetes até agora já conhecem a determinação implacável de Yarshater. "De um jeito ou de outro, com muita insistência, ele acaba conseguindo que você faça o que ele quer", comentou Ahmad Karimi-Hakkak, diretor do Centro de Estudos Persas da Universidade de Maryland, que conhece Yarshater há mais de 40 anos.
Pelo fato de a enciclopédia ser principalmente uma obra de referência acadêmica, cada dado precisa contar com múltiplas fontes. "Ele queria que eu escrevesse várias centenas de verbetes", contou o professor de Harvard, Roy Mottahedeh. "Escrevi um."
Antes de Yarshater se lançar no projeto da enciclopédia, ele percorreu o Irã, estudando dialetos, e escreveu uma obra inovadora sobre linguística. Na década de 1950, colocou clássicos ocidentais ao alcance de seus compatriotas, fundando um instituto de tradução e publicação editorial.
Em 1961 ele foi nomeado professor de estudos iranianos em Columbia -o primeiro em tempo integral de persa em uma universidade americana desde a Segunda Guerra Mundial. Yarshater foi o editor geral de uma tradução em 40 volumes da história do mundo de Al Tabari, do século 10, e editor de parte da obra "Cambridge History of Iran".
Em meados dos anos 1990, Yarshater ficou preocupado, achando que a poesia persa estava sendo ignorada. A maioria do mundo de língua inglesa já ouviu falar de Omar Khayyam, mas desconhece Ferdowsi, que no século 10 escreveu "Shahnameh", um épico nacional de 50 mil dísticos.
Então ele mergulhou na empreitada de uma coletânea de literatura persa, de 20 volumes.
"Foi quando me dei conta de que estava sofrendo de uma espécie de doença", conta o estudioso iraniano. "Se alguma coisa precisa ser feita, penso que preciso começar a fazê-la."


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