São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009

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Colônia de amebas clonais se espalha em solo texano

Por CAROL KAESUK YOON

Depois de produzir superlativos como a maior estátua de uma lebre selvagem no mundo e o presidente americano mais impopular dos tempos modernos, o Texas agora pode gabar-se de seu feito mais bizarro e mais gosmento: a maior colônia de amebas clonais da qual se tem conhecimento no mundo.
Cientistas encontraram o império vasto e pegajoso com 12 metros de largura, feito de bilhões de indivíduos unicelulares geneticamente idênticos, em meio aos excrementos de um pasto de vacas nos arredores da cidade de Houston.
“Foi diferente de qualquer outra coisa que já encontramos antes”, disse Owen M. Gilbert, aluno de pós-graduação da Universidade Rice em Houston e autor principal do artigo sobre a descoberta publicado em março na “Molecular Ecology”.
Cientistas dizem que a descoberta é muito mais que mera curiosidade porque a colônia consiste nas chamadas amebas sociais, que são capazes de reunir-se em grupos organizados e apresentar comportamentos cooperativos. A descoberta de uma colônia tão enorme de amebas geneticamente idênticas oferece pistas de como tal cooperação evoluiu e pode ajudar a explicar os comportamentos sociais em micróbios.
“A descoberta tem interesse científico significativo”, disse Kevin Foster, biólogo evolutivo da Universidade Harvard que não participou do estudo. Embora possa parecer improvável que amebas coordenassem interações umas com as outras por distâncias mais que microscópicas, a descoberta de uma colônia clonal tão grande, disse ele, “levanta a possibilidade de que as células pudessem evoluir para organizar-se em escalas espaciais muito maiores”.
A ideia de uma colônia gigantesca de amebas organizadas talvez traga à mente o filme de terror “A Bolha”, de 1958, mas essas amebas sociais, conhecidas como Dictyostelium discoideum, uma espécie de bolor gosmento, são muito mais sutis. Microscópicas e escondidas no meio do lodo, os bilhões de amebas teriam passado despercebidos de qualquer pessoa que passasse de carro ao lado do pasto.
Jane Strassman, coautora do artigo da Universidade Rice, disse que ela e uma equipe de pós-graduandos procuraram a espécie. Enfiaram canudinhos comuns na terra e em excrementos de vaca, para colher materiais nas quais as amebas pudessem estar vivendo. No laboratório, espalharam as amostras sobre placas de Petri e esperaram para ver o que se desenvolveria. Testes de DNA posteriores mostraram que as muitas amebas coletadas do pasto eram geneticamente idênticas.
Uma colônia desse tipo proporciona as condições ideais para fomentar a evolução de comportamentos como a cooperação, porque, quanto mais geneticamente semelhantes são dois organismos, mais a seleção natural vai favorecer que eles ajudem uns aos outros. As amebas Dictyostelium, por exemplo, são capazes de realizar proezas espantosas do que é conhecido como altruísmo social —comportamento em que amebas individuais se juntam num único corpo, com algumas amebas sacrificando-se para permitir a reprodução mais eficaz das demais em outras partes do corpo.
A comprovação de que outras espécies têm essas colônias clonais ajudaria a explicar as descobertas surpreendentes de comportamentos sociais entre micróbios.
No entanto, por mais impressionante (ou ameaçadora) que possa soar a ideia de uma colônia de bilhões de amebas, ela se revelou surpreendentemente frágil. “Uma semana mais tarde, choveu muito, e a colônia desapareceu”, contou Gilbert.


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