São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009

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Ensaio
Leslie Berlin

Fracasso pode trazer poucas lições


Investidor perde, e empreendedor ganha pouco se empresa fracassa, diz estudo

Se não deu certo logo de cara, não importa que você tenha tentado.
Esse parece ser o recado de um recente estudo da Escola de Negócios de Harvard segundo o qual, quando se trata de empreendedorismo com apoio de investidores, a única experiência que conta é o sucesso.
“Os dados são absolutamente claros”, diz o professor de administração Paul Gompers, um dos autores do estudo. “O fracasso gera novos conhecimentos ou experiências que podem ser aproveitados em termos de desempenho na segunda vez?” Em alguns casos, sim, mas no geral, diz ele, “descobrimos que não há benefício em termos de desempenho”.
Gompers e os coautores Anna Kovner, Josh Lerner e David Scharfstein descobriram que empreendedores de primeira viagem que receberam capital de investidores tinham 22% de chance de sucesso. A definição de sucesso foi a abertura de capital ou a solicitação para tal, mas Gompers disse que os resultados foram semelhantes quando se usavam outros critérios, como fusões e aquisições. Empreendedores já bem-sucedidos tinham muito mais chance de repetirem a dose: sua taxa de sucesso para empresas posteriores amparadas por investidores foi de 34%. Mas empreendedores cujas empresas foram liquidadas ou faliram tinham quase a mesma taxa de sucesso posterior que os novatos: 23%.
Em outras palavras, tentativa e fracasso nada trouxeram aos empreendedores. Ou, como coloca Gompers, “para o empreendedor médio que fracassou, nenhum aprendizado aconteceu”.
Essa conclusão contraria o senso comum no Vale do Silício, onde o fracasso é considerado um aprendizado importante. Uma autoridade no assunto como Gordon Moore, cofundador da Intel, diz que, no vale, “você é mais valioso por causa das experiências que passou sob fracassos”.
Empreendedores que já comandaram uma empresa sabem o que funciona ou não, dizem alguns. Tal experiência é considerada uma excelente preparação para situações difíceis.
“Dado o senso comum, esperávamos encontrar diferenças muito menores entre os empreendedores fracassados e os bem-sucedidos”, admite Gompers.
Nem todos os fracassos são iguais, explica William Davidow, sócio-fundador da empresa de investimentos Mohr Davidow Ventures. Uma empresa pode fracassar porque surgiu na hora errada ou porque o empreendedor era um mau gestor. Davidow diz que, se um empreendedor vindo de um fracasso o procurar com uma nova ideia, “eu vou querer saber por que o último negócio fracassou e o que a pessoa aprendeu com isso”.
Mark Pincus, fundador e executivo-chefe da Zynga Inc., empresa de San Francisco que desenvolve games on-line, diz que sua empresa anterior, a Tribe.net, foi “certamente um fracasso do ponto de vista dos investidores”. A Tribe.net criou uma das primeiras redes de relacionamento da internet e, segundo Pincus, arrecadou US$ 9 milhões antes de ser liquidada, três anos atrás.
Apesar desse desfecho, Pincus conseguiu angariar US$ 39 milhões em capital de investidores para a Zynga, que segundo ele é lucrativa e tem 8 milhões de usuários ativos diariamente. Em parte, o apoio que ele recebeu de investidores capitalistas reflete o fato de que Pincus fundou duas empresas de sucesso antes da Tribe.net. Mas ele também acha que os investidores esperam que os empreendedores assumam riscos, e ambos os grupos contam com eventuais fracassos.
“Como empreendedor, você tem de se acostumar ao fracasso”, diz ele. “É simplesmente parte do caminho para o sucesso.”


Leslie Berlin é historiadora dos arquivos do Vale do Silício, na Universidade Stanford


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