São Paulo, segunda-feira, 06 de julho de 2009

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LENTE

A política e a diversão da moda

A moda tem a ver com anunciar a que você veio. Algumas dessas "declarações" de moda são sérias: na França, a burca foi publicamente criticada pelo presidente. Já no Afeganistão, as mulheres têm medo de sair de casa descobertas.
Mas muitas declarações de moda são condizentes com a natureza frívola do mundo das roupas e dos sapatos, além de serem exemplos de consequências não intencionais que podem se disseminar.
O estudante Brian Govern, 32, recentemente comentou em tom de brincadeira na Amazon.com que, assim que vestiu uma camiseta estampada com três lobos e uma lua, se viu cercado de mulheres. Outras pessoas aderiram à brincadeira. E criou-se mais um frenesi na internet, escreveu Peter Applebome no "New York Times". Desde maio, a camiseta em questão tem sido um dos itens mais vendidos pela Amazon.
Govern, cujo comentário inicial sobre a camiseta foi classificado como útil por mais de 7.000 internautas, não sabia das consequências de sua declaração de moda até a Amazon entrar em contato com ele. "É triste, mas este é provavelmente o maior impacto que terei feito sobre o mundo em toda minha vida", disse ele.
Algumas declarações de moda provocam ultraje, e não pelas razões certas. O guarda-roupa de Frederick Chiluba, ex-presidente da Zâmbia, se enquadra nessa categoria. Chiluba gosta de usar ternos de grife e pijamas de seda. Também tem cem pares de sapatos italianos feitos de couro de cobra e avestruz, escreveu Celia W. Dugger no "New York Times".
Mas, quando o presidente de um dos países mais pobres do mundo gasta mais de US$ 500 mil em uma única loja (a Boutique Basile, em Genebra), isso provoca suspeitas e ressentimentos. Hoje os extratos dos cartões de crédito de Chiluba estão sendo usados como provas contra ele num tribunal, onde ele é acusado de corrupção. Chiluba nega que tenha roubado dinheiro público, dizendo em tom de escárnio que "o presidente do partido tem suas necessidades pessoais", escreveu Dugger.
O tribunal não vai julgar mulheres de mais de 50 anos por se vestirem de forma ousada ou provocante, mas elas correm o risco de se passarem por tolas, sem querer.
Mesmo as fashionistas, se já passaram de certa idade, não devem mais usar meias Lolita ou chapéus masculinos, sugere Cathy Horyn, no "Times". É recomendável render-se a escolhas mais clássicas. Esforçar-se para captar um look mais cerebral é inútil. "É como lutar contra o vento", disse a Horyn o diretor de arte da "Vogue" italiana, Luca Stoppini.
A moda também revelou ao Japão e à Coreia do Sul que seus gostos mútuos não são excludentes, apesar de uma história amarga que incluiu o domínio japonês sobre a Coreia entre 1919 e 1945. Agora, as invasões são de natureza fashion, e declarações de moda vindas de Seul encontram um público receptivo em Tóquio. E o senso de estilo japonês empolga Seul.
Rebecca Voight informa que a estilista coreana Wooyoungmi vai abrir três lojas no Japão em agosto, tornando-se a primeira designer coreana a entrar no mercado japonês. Enquanto isso, outro estilista coreano, Juun J., comentou: "Os homens coreanos estão aderindo à moda japonesa. Eles querem ficar elegantes no trabalho".


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