São Paulo, segunda-feira, 06 de julho de 2009

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Ilha se refugia na rotina ante tensão entre as Coreias

Por MARTIN FACKLER

ILHA DE YEONPYEONG, Coreia do Sul - Sentado diante de sua casa, remendando uma rede de pesca, Kim Sang-jin recordou a última vez em que as Coreias do Norte e do Sul se enfrentaram militarmente no vizinho mar Amarelo.
Isso foi há sete anos, e os disparos feitos desde navios de guerra na escaramuça naval que durou duas horas foram tão próximos que sacudiram as janelas de sua casa, fazendo o pescador e sua mulher se jogarem no chão para tentar se proteger. Agora, com a tensão crescendo desde o teste nuclear feito pela Coreia do Norte, em maio, e a subseqüente imposição de sanções pela ONU, Kim disse que ele e outros moradores temem que uma nova batalha possa eclodir a qualquer momento perto dessa pequena ilha controlada pela Coreia do Sul, localizada precariamente ao largo da hostil Coreia do Norte.
"Temos medo sempre, todos os dias", disse Kim, 66, que vive perto de um abrigo antibombas. "Mas a gente se acostuma a conviver com o medo."
Especialistas militares sul-coreanos dizem que essa ilha solitária, que também é reivindicada pela Coreia do Norte, é o lugar mais provável para esse choque ocorrer, com o Norte possivelmente provocando uma batalha limitada como parte do jogo de alto risco de provocações e recuos que desenvolve com EUA e outros países.
A ilha de Yeongpyeong fica a apenas três quilômetros da chamada linha de fronteira norte, uma extensão na água da zona desmilitarizada que divide as duas Coreias. Ela foi palco de duas batalhas navais mortais nos últimos dez anos.
Desde então, a Coreia do Sul enviou à área o primeiro de sua mais nova classe de navios com mísseis guiados projetados especialmente para as disputas navais de curto alcance que já ocorreram nessas águas. Numa cerimônia recente para marcar o décimo aniversário da primeira das duas batalhas navais anteriores ocorridas na ilha, quando a Coreia do Sul disse ter derrotado a Coreia do Norte e afundado dez de suas embarcações, o comandante Kwon Young-il jurou que, se a Coreia do Norte voltasse a atacar, "nós vamos afundá-los".
Muitos dos 1.600 residentes civis da ilha, em sua maioria pescadores, se sentem presos no meio do conflito. Mas o que também afirmam é que estão acostumados com a periódica escalada da tensão e que vão simplesmente continuar com seu trabalho diário em seus barcos de pesca de caranguejos e suas armadilhas de peixes.
Com seus bunkers de concreto, armadilhas para tanques e linhas de trincheiras, a ilha parece uma cápsula da Guerra Fria. Os moradores fazem treinos mensais para enfrentar ataques aéreos e guardam máscaras de gás em suas casas. Desde o teste nuclear, a ilha abasteceu seus 19 abrigos antibombas para civis com água fresca e macarrão seco.
Em meio à corrida para conquistar um padrão de vida cada vez melhor, muitos sul-coreanos parecem ansiosos por esquecer seu vizinho beligerante do norte, apesar de as duas Coreias continuarem tecnicamente em guerra há mais de meio século. Alguns dos ilhéus dizem que os perigos da ilha frequentemente são exagerados. Muitos reclamam que a escalada da tensão vem afastando turistas.
Alguns dos moradores da ilha chegaram a resmungar, dizendo que os únicos invasores que viram até agora são multidões de repórteres. "Quando vemos as equipes de TV, sabemos que alguma coisa está acontecendo", comentou Park Choon-geun, 49, capitão de barco de pesca de caranguejos. "Quando não há ninguém, achamos que a vida aqui está normal."


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