São Paulo, segunda-feira, 06 de julho de 2009

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DIÁRIO DE STELLENBOSCH

Mercado sul-africano insurge contra crítica britânica de vinhos

Por BARRY BEARAK

STELLENBOSCH, África do Sul - Imagine que o rótulo de um vinho diga: "Esta mescla tinta frutada é encorpada, com sabores de amora doce, mocha condimentada e borracha queimada. O aroma permanece como marcas de pneus no chão após um acidente de carro."
A África do Sul é o nono maior produtor de vinho do mundo, ganhador de prêmios em competições internacionais. Como se explica, então, que alguns de seus vinhos tenham sido vinculados a um mau cheiro comumente provocado por uma fogueira num aterro sanitário?
A resposta está sobretudo na prosa animada da crítica de vinhos britânica Jane MacQuitty, do "The Times" de Londres.
No final de 2007, ela degustou uma safra de tintos sul-africanos e escreveu que metade dela estava contaminada por um aroma "forte e peculiar de borracha queimada". Em coluna posterior, descreveu uma seleção dos vinhos tintos mais bem cotados do país como "um desapontamento malcheiroso, que aleija o paladar e provoca uma reviravolta no estômago".
Nos vinhedos da região do Cabo Ocidental, onde as videiras crescem contra um pano de fundo de montanhas belíssimas, os comentários da crítica provocaram fúria e perplexidade. MacQuitty não identificou nenhum vinho tinto específico em suas críticas. Exatamente quais carregariam o odor?
"Todos nós fomos caluniados por uma declaração muito geral", disse André van Rensburg, da vinícola Vergelegen.
Os sul-africanos que rejeitaram a crítica foram acusados de terem "paladar de porão", ou seja, de estarem tão acostumados com vinho maculado que seu paladar já o aprecia.
A preocupação foi grande entre os exportadores. Muitos consumidores não se importam com a origem de um vinho, mas com seu preço. Esses consumidores provavelmente vão preferir trocar de marca a correr o risco de tomar um gole de galochas chamuscadas.
"Preferimos que as pessoas empreguem o termo 'acre' a 'borracha queimada'", disse André Morgenthal, porta-voz da organização Vinhos da África do Sul, que representa os exportadores. "Mas, seja qual for o nome que se dê a isso, ainda não foi cientificamente comprovado que o sabor existe. Encarregamos nossos melhores profissionais de descobrir se é o caso."
No último ano, investigadores do departamento de viticultura e enologia da Universidade Stellenbosch vêm trabalhando sobre o caso. As conclusões da equipe coincidem com as teorias de alguns dos melhores produtores de vinho do país.
Eles atribuem o sabor de borracha queimada a falhas na produção do vinho. Citam a ocasional desatenção a certos compostos de sulfitos que podem se formar durante a fermentação.
"Esse não é um problema típico da África do Sul, mas somos um alvo fácil", disse Van Rensburg. "Devido ao passado, ao apartheid, as pessoas sempre estão dispostas a acreditar no pior em relação a este país." E ele recomendou que não se deem ouvidos aos críticos: "Eles se empolgam com os discursos uns dos outros. Se um identifica o aroma de maçã, outro diz: 'Sim, e estou sentindo sabor de canela também'".
A crítica MacQuatty respondeu dizendo que "se os sul-africanos não identificarem e eliminarem o sabor de borracha queimada, nunca serão respeitados no universo do vinho".


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