São Paulo, segunda-feira, 06 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bancos globais desafiam Wall Street

Por GRAHAM BOWLEY

As grandes empresas de investimentos de Wall Street nunca haviam enfrentado um desafio estrangeiro sério em seu próprio quintal. Mas, conforme os abalos tectônicos reverberam pela indústria bancária, rivais fora dos EUA estão penetrando em alguns dos mais lucrativos recantos das finanças americanas.
Suíços, alemães, britânicos e japoneses têm agarrado negócios dos cambaleantes bancos americanos, abrindo o capital de empresas, subscrevendo novos títulos e assessorando corporações sobre fusões e aquisições. E estão contratando mais banqueiros e corretores de seus rivais para continuar sua marcha vitoriosa.
Embora os grandes bancos dos EUA ainda dominem as finanças globais, a recente mudança, mesmo sutil, está levantando algumas perguntas desconfortáveis, entre elas: os bancos estrangeiros poderão um dia fazer para Wall Street o que o Japão fez para Detroit, ao dominar a produção de automóveis?
"Há evidências de tração na participação de mercado, e pode-se ver que esses bancos estão dando saltos", disse Fiona Swaffield, analista da Execution Ltd., corretora baseada em Londres. "A questão é: Quanto tempo isso pode durar, e alguém poderá ressurgir?"
Durante a última década, os mais fortes rivais estrangeiros tentaram superar seus concorrentes americanos, muitas vezes com sucesso relativo. O Credit Suisse da Suíça tentou se tornar uma potência universal ao comprar o banco de investimentos americano Donaldson, Lufkin & Jenrette em 2000, mas a aquisição azedou. O Deutsche Bank da Alemanha tentou fazer o mesmo com uma fusão em 1998 com o Bankers Trust e enfrentou problemas semelhantes.
Ao mesmo tempo, os bancos estrangeiros se tornaram cada vez mais agressivos em atividades como levantar capital de investidores em nome de corporações e governos que estão emitindo títulos (de dívida e ações) e em fusões e aquisições.
Dez anos atrás, por exemplo, um único banco, o Credit Suisse, se classificava entre os dez maiores compradores de dívida. Este ano, quatro bancos estrangeiros enchem a área. De maneira semelhante, Barclays Capital, Deutsche Bank, Credit Suisse e UBS hoje estão entre os dez principais assessores de fusões e aquisições. Uma década atrás, a única firma não americana era a Dresdner Kleinwort.
Mais recentemente, os bancos estrangeiros pretendiam capitalizar o turbilhão que convulsiona a indústria financeira. A queda do Bear Stearns e do Lehman Brothers lhes deu uma rara oportunidade de pressionar para obter vantagem. O mesmo aconteceu com distrações como a frágil aquisição do Merrill Lynch pelo Bank of America.
Enquanto isso, muitos bancos estrangeiros fortificaram suas finanças a pedido de reguladores, enquanto evitavam as restrições e os testes de tensão exigidos de muitos rivais americanos.
E, enquanto os bancos americanos começam a recuperar a saúde, as iniciativas do governo Obama para frear a indústria provavelmente mudarão a paisagem competitiva de novas maneiras -desenvolvimento observado de perto pelos rivais estrangeiros.
"O que me preocupa é a vantagem competitiva que os bancos não americanos têm diante dos americanos", disse Eugene A. Ludwig, que trabalhou no governo de Bill Clinton (1993-2001) e hoje dirige o Promontory Financial Group, grupo de consultoria bancária em Washington. "Os bancos estrangeiros geralmente operam sob estruturas regulatórias mais coesas do que os americanos, o que cria desequilíbrios que os estrangeiros podem explorar, especialmente em um momento em que seus homólogos americanos estão operando sob restrições extraordinárias."
Nos nove meses desde que comprou as principais operações do Lehman por um preço de barganha, o Barclays Capital, que já era uma das maiores firmas de gestão de riscos e financiamento da Europa, passou de um ator menor para uma grande empresa nos mercados de capital.
A transação foi uma oportunidade rara para o Barclays assumir rivais como o Morgan Stanley. Como o Barclays quase duplicou sua força de trabalho nos EUA da noite para o dia, comprando os remanescentes do Lehman, o banco britânico saltou para o segundo lugar em subscrição de dívida global. É o número 4 nos EUA, com quase 10% do mercado, mais que Goldman Sachs ou Morgan Stanley.
"Somos uma das poucas firmas de Wall Street concentradas em construir este ano, e não em consolidar", disse Jerry del Missier, presidente do Barclays Capital, sediado em Nova York.


Texto Anterior: Diário de Stellenbosch: Mercado sul-africano insurge contra crítica britânica de vinhos

Próximo Texto: Vizinhos incômodos no trabalho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.