São Paulo, segunda-feira, 06 de julho de 2009

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Queda na demanda dá calafrios em fabricantes de cashmere

Por KEITH BRADSHER

HOHHOT, China - Durante o verão no hemisfério norte, o cashmere vendido nas lojas de departamentos e shopping centers é, na maior parte, em tops ultrafinos próprios para a estação. Quando chega o outono, eles são geralmente substituídos por suéteres grossos e suntuosos. Mas este ano parece que vai ser diferente.
Os negociantes da China dizem que as encomendas americanas e europeias para a estação, para a qual os suéteres começam a ser produzidos, caíram até 30%. E os modelos escolhidos pelos compradores das lojas ocidentais são de pior qualidade, por usar menos do caro material.
"Eles são pequenos demais -a metade do peito fica para fora do suéter", queixou-se Wang Jie, gerente de vendas da Inner Mongolia Dongda Cashmere Products.
Os consumidores ocidentais estão comprando menos produtos de luxo, e a demanda por cashmere despencou. Os efeitos dolorosos disso são sentidos em toda a cadeia, até os vastos platôs da Mongólia Interior, por criadores, operários e donos de fábricas -mostrando que a crise nos mercados de EUA, Europa e Japão pode repercutir nos mais remotos cantos do mundo.
Apelidado de "fibra diamante" na Mongólia Interior, o cashmere mudou a vida de Yrthashun, pastor que, como muitos mongóis, só tem um nome. Ele vive na pequena aldeia de Baiyuanhua, a quatro horas de carro de Hohhot (China) por uma estrada pavimentada de duas pistas, atravessando uma vasta região plana onde o capim curto e áreas de terra se estendem sob o céu imenso.
Quando a riqueza se espalhou pelo mundo na década de 1990, as classes médias começaram a usar cashmere, e Yrthashun prosperou. Até um ano atrás, a lã penteada de seu rebanho de cem grandes cabras kashmir era vendida por até US$ 60 o quilo, o que permitiu que Yrthashun comprasse um carro compacto chinês.
Mas o preço da lã caiu quase pela metade desde então, e os criadores foram obrigados a vender muitas de suas cabras como carne. "O fim da criação de cabras depois de séculos é a coisa mais triste que já tive de enfrentar", disse Yrthashun.
O problema não é apenas o colapso do mercado de cashmere, mas também a proibição do governo às cabras kashmir em grande parte da Mongólia Interior, por razões ecológicas. As cabras famintas e de cascos afiados arrasaram os platôs áridos e quebraram o solo, contribuindo para tempestades de poeira que enchem o céu de Pequim e outras cidades do nordeste da
China.
As tecelagens, que pegam a lã superfina das cabras e a fiam para as confecções de suéteres, também estão sofrendo. A Tiaje Cashmere Company, nessa cidade, um armazém sem janelas do tamanho de um campo de futebol, está cheia de máquinas que transformam a lã em fio. Mas, como os negócios estão fracos, nos últimos meses só alguns trabalhadores têm ocupado pequenas áreas iluminadas no enorme espaço escuro cheio de máquinas.
A Tiaje Cashmere Company vende fios para a vizinha Inner Mongolia Harmony Industry and Trade Company, que tece belos suéteres e outras roupas para os mercados americano e italiano.
Mas a fábrica operou com menos da metade de sua capacidade na maior parte do ano passado. O emprego na fábrica caiu para 50 operários este ano. O dono e diretor geral, Muren, que também só tem um nome, disse que o emprego desde então aumentou para 70 -mas este deverá ser o surto anual de produção, de junho a setembro, para atender à temporada de descontos de outono no Ocidente.
A Inner Mongolia Harmony tem até agora encomendas de 20 mil suéteres para este ano, comparados com 28 mil nesta época no ano passado. E Muren discorda de alguns economistas, dizendo que vê poucos sinais de recuperação nos EUA.
"Segundo nossos clientes americanos e europeus, a situação está terrível", disse.


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